quinta-feira, 15 de outubro de 2020

KLÁSSIQO: Gosto de Sangue

Frances e John: amantes em apuros. 

Gosto de Sangue é o primeiro filme dos irmãos Coen, mas o filme ainda é da época em que Joel assinava a direção e o mano Ethan aparecia como produtor por conta de problemas com o sindicato que não permitia co-autorias na época, mas todo mundo sabia que os dois trabalhavam juntos não apenas no texto, mas também na condução da narrativa. Lançado em 1984 o filme se tornou cult e um marco no cinema independente americano. Se hoje as produções de pequenas produtoras e orçamentos modestos desfrutam de notoriedade em Hollywood, foram filmes de baixo custo e ideias arrojadas como este que mudaram o olhar sobre este outro lado da indústria cinematográfica dos Estados Unidos. A história tem um ponto de partida bastante simples no universo dos Coen: um marido que deseja se livrar da esposa. O motivo é o envolvimento dela com outro homem, no entanto, ao contratar a pessoa errada para fazer o serviço, o roteiro segue por caminhos inesperados e a esposa precisará se tornar a heroína da história se quiser continuar viva no banho de sangue que organizaram para o desfecho. Quem vive a esposa em risco é Frances McDormand, hoje duplamente oscarizada e casada com Ethan, a atriz fazia aqui sua estreia no cinema ainda distante do senso de humor peculiar que a tornou ainda mais famosa. Frances faz sua estreia com bastante desenvoltura no papel de uma personagem que a partir do segundo ato não faz a mínima ideia do que está acontecendo ao seu redor, assim como seu amante, Ray (John Getz) - que quanto mais descobre em que o marido traído (Dan Hedaya) esta envolvido, mais coloca sua vida em risco. Muito do apelo do filme está na quebra da expectativa do espectador, já que o roteiro subverte tudo aquilo que se espera dele. Não satisfeitos, os Coen ainda investem em closes inusitados e ângulos diferentes, além de trabalhos com luzes (cortesia da fotografia de Barry Sonnenfeld) e sons que compõem um suspense que cresce gradativamente. De narrativa enxuta e temperada com atmosfera noir e humor negro, Gosto de Sangue colocou o nome dos diretores entre aqueles que mereciam atenção nos anos seguintes e eles retribuíram construindo histórias que sempre fugiram do lugar comum de Hollywood - e lhe renderam mais de uma dezena de indicações ao Oscar ao longo da carreira. Vale lembrar que em 2004, em comemoração aos vinte anos de lançamento, os manos lançaram uma outra versão rotulada de "versão do diretor" em que o filme aparecia com quatro minutos a menos (fato inédito ao formato geralmente mais longo que o original) e uma trilha sonora mais elaborada. Gosto de Sangue entrou na lista dos dez melhores filmes do ano do National Board of Review, foi considerado o melhor filme do Festival de Sundance e foi indicado em cinco categorias no Independent Spirit levando os de melhor diretor e ator (M. Emmett Walsh que é o grande vilão da história), concorrendo ainda em produção, roteiro e fotografia. Com quase quarenta anos de idade o filme envelheceu muito bem e não soa nem um pouco datado. 

Gosto de Sangue (Blood Simple / EUA - 1984) de Ethan Coen com Frances McDormand, Dan Hedaya, John Gets, M Emmett Walsh e Samm-Art Williams. ☻☻☻☻

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