Greta é um daqueles filmes que existem para nos fazer lembrar que os grandes também erram. Bem, se repararmos bem os créditos a ideia é que dois dos envolvidos são mais do que grandes, são gigantes - o que faz o tombo parecer ainda maior. A começar pelo diretor, Neil Jordan o diretor irlandês mais badalado em Hollywood dos anos 1990, época em que ganhou o Oscar de roteiro original com o já clássico Traídos Pelo Desejo (1991) e dirigiu o sucesso Entrevista com o Vampiro (1994) e o magnífico Fim de Caso (1999). Faz um tempinho que Jordan não encontra muito reconhecimento em seus filmes, mas até agora não havia realizado um tropeço tão grande quanto este aqui. Neste ponto entra o segundo gigante, na verdade, uma giganta, Isabelle Huppert, talvez a atriz francesa mais prestigiada do nosso tempo e que acabava de sair de sua primeira indicação ao Oscar por sua famigerada interpretação em Elle (2016) de Paul Verhoeven (e que merecia ter levado a estatueta para casa). Aqui ela também interpreta a personagem título, mas as semelhanças param por aí, já que conforme Greta avança em suas surpresas, mais chafurda no ridículo de um suspense barato. No meio do caminho ainda temos uma jovem atriz promissora que faz tempo não recebe um papel à altura, Chloë Grace-Moretz que come o pão que o mal roteirista amassou nesta trama estapafúrdia. Chloë interpreta Frances, uma jovem que tenta ganhar a vida em Nova York trabalhando em um restaurante. Educada e de bom coração, um dia ela encontra uma bolsa no metrô e resolve encontrar a dona, ela acaba se deparando com a solitária Greta (Isabelle Huppert), uma professora de música francesa que está um pouco deslocada naquela cidade grande. As duas acabam se tornando amigas, especialmente pelo fato de Frances ainda não ter superado a morte da mãe e Greta ter lá os seus problemas com a filha. Se no início a atenção de Greta tem uma forte carga maternal, não demora muito para que seja visto um certo desequilíbrio em seu comportamento obsessivo pela jovem que se torna cada vez mais amedrontada com a presença daquela senhora. Greta demonstra não apenas ser carente, mas também mentirosa e uma verdadeira louca de pedra, capaz das maiores atrocidades para ter Frances por perto. Neil Jordan é um ótimo diretor, mas aqui ele prova que não é capaz de fazer milagres com um roteiro que não tem medo do ridículo, da mesma forma é curioso ver duas atrizes competentes defendendo personagens tão unidimensionais capazes das atitudes mais estranhas para o contexto em que se encontram. Em alguns momentos Frances demonstra não ter muitos neurônios funcionando e Greta além de louca tem uma sorte impressionante para não ser descoberta pelas atrocidades que realiza. Em alguns momentos o filme beira o cômico, especialmente se lembramos todos os tipos curiosos que Huppert já interpretou em sua carreira, de Elle até a Professora de Piano (2001), do qual Greta parece uma paródia de mal gosto. Resta ao espectador de divertir com o que parece uma comédia involuntária com a expressão blasé de sua protagonista francesa que parece se divertir muito com a tosquice da trama. Os envolvidos mereciam algo melhor.
Greta (EUA-Irlanda/2018) de Neil Jordan com Isabelle Huppert, Chloë Grace Moretz, Maika Monroe, Jane Perry, Colm Feore e Stephen Rea. ☻
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