Talvez a carreira do californiano Todd Haynes possa ser dividida em antes e depois de Longe do Paraíso. Antes, Haynes era lembrado diretamente como um dos nomes mais curiosos do cinema indie americano, responsável pelos provocadores Veneno (1991), A Salvo (1995) e Velvet Goldmine (1998). Embora diferentes entre si, os seus três primeiros filmes criaram controvérsias e dividiram opiniões quanto às suas temáticas - mas Velvet já demonstrava que o mainstream estava de olho nele, afinal, ninguém é capaz de fazer uma releitura do glam rock dos anos 1970 citando Lou Reed, Bowie e Iggy Pop sem chamar atenção (o filme foi lembrado no Oscar de melhor figurino). Quando Haynes lançou Longe do Paraíso, público e crítica ficaram surpresos pela forma como o diretor evocava diretamente um cinema que estava fora de moda, considerado até cafona em seus apelos à memória de Douglas Sirk, o cineasta alemão que fez história em Hollywood com seus melodramas nos anos 1950. Haynes bebe diretamente nesta fonte e cria um filme de estética irretocável, com fotografia deslumbrante, figurinos impecáveis e ajuda de uma estrela que personifica um daqueles papéis que as divas do cinema defenderiam tão bem ao exibir a casca de perfeição que se corrói em tristeza interior. Julianne Moore (que estrelou A Salvo e outros filmes do diretor após este aqui) interpreta Cathy Whitaker, uma dona de casa que leva uma vida aparentemente perfeita ao lado do esposo, Frank (Denis Quaid) e o casal de filhos. Ele é um executivo influente de uma empresa da região e cabe à esposa contribuir para a construção de uma imagem idílica sobre este homem fora do trabalho. No entanto, os constantes atrasos do esposo começam a intrigar Cathy, que resolve fazer uma surpresa no trabalho dele e se depara com um segredo que mudará sua vida para sempre. Some isso à atração que ela começa a sentir pelo jardineiro, Raymond (Dennis Haysbert) que é negro e o que vemos é Haynes sobrepor preconceitos para o que antes era um paraíso se tornar um sufocante jogo de aparências. As atitudes dos personagens desencadeiam uma série de situações que rompe com a casca de perfeição e os torna vulneráveis perante o que a sociedade tem de mais conservadora. Não é por acaso que o filme é ambientado nos anos 1950 com a estética inebriante de um mundo que estava prestes a enfrentar mudanças consideráveis na década seguinte. Esta necessidade de mudança necessária está mais do que presente no casal Whitaker, que precisa decidir entre estar presos às convenções ou à liberdade de escolher o que se deseja. Neste dilema, Denis Quaid tem um dos melhores momentos de sua carreira, mas o espetáculo fica por conta de Julianne Moore que teve um ótimo ano em 2002, levando para casa o prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza por este filme e sendo indicada ao Oscar de melhor atriz por seu trabalho (no mesmo ano ela concorreu como coadjuvante por As Horas após ter levado para casa o prêmio de atriz em Berlim ao lado de Nicole Kidman e Meryl Streep). Além da indicação ao Oscar de atriz, Longe do Paraíso concorreu ainda pela fotografia, trilha sonora e indicou Haynes ao Oscar de roteiro original.
Longe do Paraíso (Far from Heaven / EUA - 2002) de Todd Haynes com Julianne Moore, Denis Quaid, Denis Haysbert, Patricia Clarkson e Viola Davis. ☻☻☻☻
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