Criada por Garth Ennis e Darick Robertson a HQ The Boys se tornou um grande sucesso na Amazon Prime Video tão logo sua primeira temporada foi lançada. No entanto, o programa passa longe da fórmula Marvel de sucesso e mais ainda das séries juvenis dos heróis da DC Comics na TV. The Boys está mais para os personagens instáveis psicologicamente de Watchmen (tanto que frequentemente é comparada à ela), mas com menos pretensão e temperados com muito mais ironia, deboche e espírito sanguinário. O estilo hardcore dos quadrinhos foi preservado na série que faz chacota não apenas do culto aos super-herói, mas imagina como seria a presença destes seres no mundo real. Se dizem que para conhecer realmente uma pessoa é preciso dar poder a ela, imaginar se ela recebe super-poderes é uma ideia mais do que interessante. Se na primeira temporada nos apresentaram o grupo Os Sete, liderados por Capitão Pátria (Anthony Starr) ao lado de Rainha Maeve (Dominique McElligott), Profundo (Chace Crawford), Trem-Bala (Jessie T. Usher), Black Noir (Nathan Mitchell), Translúcido (Alex Hassell) sob o prisma da chegada da novata Luz Estrela (Erin Moriarty), enquanto um grupo de rapazes (os The Boys do título formado por Karl Urban, Jack Quaid,Tomer Capon, Laz Alonso e Karen Fukuhara) tenta desmascará-los, a segunda enfatiza ainda mais as atrocidades destes heróis sem escrúpulos. No entanto se a primeira temporada apresenta estes heróis dignos de culto num mundo de celebridades, a segunda enfatiza ainda mais a forma como se constrói a aura de mitos em torno de seres de moral e ética questionáveis a partir da noção de que são verdadeiros exemplos, aspecto enfatizado ainda mais com a chegada de uma nova personagem: Tempesta (Aya Cash), que é mais experiente do que imaginam e faz com que a crise de popularidade do Capitão Pátria (cada vez mais psicótico) se depare com a eficiência dos memes regados à discurso de ódio nas redes sociais. Tempesta ainda torna o discurso do fascínio incontrolável pelo poder ainda mais incisivo, já que conforme a trama avança, nos deparamos com ideias perigosas atemporais que se adaptam ao público de diferentes épocas sob novo formato e ideias que ainda buscam seu lugar no Século XXI. Para além de Tempesta e seu envolvimento com Capitão Pátria, a segunda temporada mantem o destaque nos mesmos personagens da anterior (o romance de Luz Estrela com ... e o ódio de Bruto pelos Sete), no entanto, explorar a sexualidade de Rainha Maeve (e uma crise de consciência por uma atrocidade do passado), assim como uma "redenção" de Profundo através da religião e a iminente saída de Trem Bala não lhe garantes muito destaque no geral da trama (além do misterioso Black Noir continuar na mesma). Bom mesmo é a promessa de que qualquer um poderá ser um herói se tomar um tal Composto V e ajudar a deter os supervilões que estão por aí (o que serve como clara analogia para os tempos que vivemos), se Capitão Pátria e seu bando provam que poderes não tornam uma pessoa melhor, talvez a ideia não seja tão boa quanto parece. The Boys termina sua nova temporada com pique para emendar várias outras, torna-se o raro caso de adaptação em que os fãs não ligam muito para as alterações na trama (Tempesta por exemplo era um homem nos quadrinhos), além de ter a esperteza de saber afinar o que se assiste com o que acontece no mundo hoje. No meio de tudo isso, os fãs criaram mais problemas pelo lançamento semanal de episódios. O que era para evitar spoilers gerou uma revolta generalizada nas redes sociais, o que só me faz pensar se o público entende as alfinetadas que a própria série proporciona.
The Boys (EUA, 2019-2020) de Eric Kripke com Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr, Erin Moriarty, Chace Crawford, Tomer Capon, Jessie T. Usher, Aya Cash e Karen Fukuhara. ☻☻☻☻
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