sexta-feira, 23 de outubro de 2020

PL►Y: Rebecca - A Mulher Inesquecível

Armie e Lily: coragem em refilmagem.

 O livro  Rebecca - A Mulher Inesquecível da escritora britânica Daphne du Maurier se tornou um sucesso editorial em seu ano de lançamento (1938) e logo teve seus direitos para o cinema comprados para marcar a estreia de Alfred Hitchcock em Hollywood nos idos de 1940. Estrelado pelo icônico Laurence Olivier e fazendo de Joan Fontaine uma estrela, o filme foi indicado onze Oscars e levou para casa dois: fotografia em preto e branco e Melhor Filme. Hitch não colocava o filme entre os seus favoritos, especialmente por conta dos atritos com o produtor David O. Selznick, além disso o filme se tornou polêmico pela forma como o diretor tratava sua estrela durante as filmagens (afim de tornar sua atuação mais crível como a insegura Senhora DeWinter). Ou seja, Rebecca se tornou uma daquelas obras clássicas que tem uma verdadeira mítica em torno de si e até hoje atrai fãs para sua atmosfera tensa e sugestiva. Ainda que a obra tenha rendido outras versões menos celebradas, ainda é preciso uma dose invejável de coragem para refilmar a obra de um mestre do cinema como longa-metragem. Eis que o diretor Ben Wheatley (do assustador Kill List/2011 e do recente Free Fire/2016) resolveu fazer sua versão do livro para a Netflix. Enquanto todo mundo se perguntava se era realmente necessário mais uma versão, Wheatley argumentava que muita gente não assiste o filme por conta da linguagem da época ou por ser em preto e branco e que uma nova leitura é sempre interessante e blablabla... enfim, admiro sua capacidade de colocar a cara a tapa. Especialmente quando a leitura que ele faz do livro é bem menos interessante do que a feita por Hitchcock, afinal, se a história ganha contornos de suspense psicológico naquele filme clássico, na nova versão o romance se sobrepõe a qualquer outra característica, drenando muito o que tornava o par principal tão instigante e até perturbador. O filme conta a história de uma jovem de origem simples (Lily James) que se apaixona rapidamente por um viúvo lindo e rico, Maxim de Winter (Armie Hammer). Os dois resolvem se casar  e ela vai morar na mansão com ele e sua dezena de empregados. O problema é que ainda paira sobre a mansão e seus frequentadores a memória da falecida Srª de Winter, Rebecca que é sempre citada como um exemplo de beleza, refinamento, inteligência e tudo mais que há de bom. Boa parte do culto à ela se deve à governanta Mrs Danvers (Kristin Scott-Thomas, perfeita) que usa de artimanhas manipuladoras para minar o novo casamento de seu patrão. A estrutura desta nova versão é igual ao clássico, os fatos seguem o mesmo rumo, embora tenha usado de mais sensualidade para retratar a história do casal. No entanto, o filme perdeu muito de sua atmosfera, deixando Lily James bem longe do desconforto constante que víamos em Joan Fontaine e Armie Hammer faz uma versão bem menos angustiada de Maxim, o que também o deixa menos misterioso e retira muito do impacto do segredo que guarda por boa parte da sessão. Quem não conhece o filme de 1940 vai achar que é uma história de amor comum, mas quem viu terá a ideia que embora esta nova versão tenha cenários, figurinos, locações e fotografia de encher os olhos, a narrativa perdeu muito do seu encanto. Quem colabora para deixar o filme com algum brilho é a sempre competente Kristin que está perfeita como a empregada ainda muito ligada à sua antiga patroa. Sua presença quase hipnótica nas cenas foi o que ainda me proporcionou alguma satisfação nesta nova versão.


Kristin e Lily: governanta de repeito. 

Rebecca - A Mulher Inesquecível (Rebecca - EUA / Reino Unido -2020) de Ben Wheatley com Lily James, Armie Hammer, Kristin ScottThomas, Ann Dowd, Pippa Winslow, Sam Riley e Bryony Miller. ☻☻ 

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