Em 2013 a Academia de Cinema da Grécia elegeu O Garoto que Come Alpiste como o melhor filme grego daquele ano. A escolha garantiu ao longa dirigido por Ektoras Lygizos disputar uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro, mas ficou de fora, provavelmente por conta do mal estar que o filme provoca e, especialmente, por conta de uma cena polêmica de, digamos, de autossatisfação (usada de um jeito que você nunca viu antes). O filme conta a história de um jovem cantor (Yiannis Papadopoulos) desempregado m meio à crise financeira de seu país. Sem dinheiro para se alimentar, pagar as contas e o aluguel, o seu cotidiano se divide entre procurar emprego e encontrar algo para comer, seja nas lixeiras ou caçando restos de frutas pela cidade. Quem faz companhia para ele é um canário, cujo alpiste se torna responsável pelo título (afinal, nas horas que a fome aperta e não há nada para comer, o alpiste se torna a única alternativa). O pássaro parece ser o único vínculo que mantém o personagem com sanidade diante das dificuldades que enfrenta. Sem amigos ou parentes próximos (o relacionamento com a mãe vira um enigma, já que existe apenas uma ligação que não avança muito no meio da sessão), ele mantém algum vínculo com um vizinho idoso (Vangelis Kommatas) que o chama em casos de emergência (mas até a geladeira do vizinho está vazia). Dentre os filmes da Estranha Onda Grega, O Garoto que Come Alpiste é o que utiliza mais diretamente a crise econômica da Grécia para compor sua narrativa. O personagem principal se torna o retrato da falta de perspectiva de uma geração deixada à própria sorte, além de reproduzir um temor que é universal: a fome. Chega a ser angustiante os encontros com as pessoas que cruzam o caminho do rapaz e se tornam uma esperança involuntária dele receber algum alimento. Seja o vizinho, a garota pela qual demonstra interesse ou uma senhora na igreja que se emociona com a voz do rapaz. Particularmente achei a cena da igreja a mais bonita do filme, a voz do personagem é de uma dor, uma tristeza que é capaz de sintetizar tudo o que se passa em suas conturbadas emoções. É difícil conter o choro. O estreante Yiannis Papadopoulos é digno de elogios pelo seu ótimo trabalho ao carregar o filme nas costas, literalmente, já que o diretor o persegue o filme inteiro, colocando a câmera quase sempre em close no personagem, o que cria um tom tão claustrofóbico quanto urgente em sua linguagem quase documental. A junção do diretor e do ator, fazem cenas como aquela polêmica que mencionei no início fazer todo o sentido no contexto desesperado do personagem. Ainda que possa ser carregado de pessimismo, a cena final deixa uma sensação de final feliz, mas instiga a construção do que acontece depois com o personagem e seu amigo canário após a última cena. Não por acaso o filme é baseado livremente no clássico da literatura norueguesa "Fome" de Knut Hamsum, lançado originalmente em 1890 e que, infelizmente continua atual.
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