Lançado no Festival de Veneza de 2010, de onde saiu com o prêmio de melhor atriz para Ariane Labed, Attenberg se tornou um dos marcos iniciais da Estranha Onda Grega, que no ano anterior já havia chamado atenção no Festival de Cannes com Dente Canino de Yorgos Lanthimos. No entanto, embora muitos considerem a naturalidade com que fala de sexo um ponto polêmico do filme, Attenberg consegue ser bastante leve perante as temáticas que agrega em torno de Marina (Ariane Labed a ginasta de Alpes/2011), jovem de 23, sem namorado ou vida sexual que divide a rotina de levar o pai (Vangelis Mourikis) para sessões de tratamento contra o câncer e conversar com a amiga, Bella (Evangelia Randou de Kinetta/2007) - que tenta tirar sua amiga da inércia amorosa a ensinando como beijar ou fazer sexo. As duas também fazem coreografias desengonçadas pelas ruas vazias do bairro que habitam e conversam sobre o interesse crescente de Marina por um operário que trabalha nas redondezas e que ela serve de motorista (papel desempenhado por Yorgos Lanthimos). A diretora Athina Rachel Tsangari faz uma estreia interessante e bem humorada sobre o impasse que a protagonista vivencia: a proximidade da morte do pai e a necessidade de seguir a vida por conta própria, o que representa o olhar de uma nova geração sobre o fim da anterior. Marina nem fazia ideia da crise econômica que cairia sobre seu país nos anos seguintes e seu pai se despede dizendo que "não lhe ensinou nada" e que, como todo arquiteto, "merece ir para o inferno". A relação entre pai e filha é bastante terna e por vezes gera situações inusitadas (e não me refiro às cenas em que os dois imitam os animais dos documentários de David Attenborough para BBC - o que reforça um certo impasse de Marina perante o crescimento). A ideia de solidão e isolamento também é muito presente, seja pelas ruas ou corredores vazios durante quase todo o filme que reforçam a sensação deslocada da personagem. Temperando a estranheza com bom humor, parece até dissonante com os filmes de seus colegas cineastas contemporâneos. A diretora Athina foi produtora de dois filmes de Yorgos Lanthimos e, levando em conta a fama mundial do diretor (que já soma 3 indicações ao Oscar) é interessante vê-lo se desnudar perante a câmera seguindo a linha de interpretação que imprime aos seus atores, chega a ser surpreendente como seu jeito quase anestesiado soa sexy em cena no contraste com toda a vitalidade que Ariane Labed imprime à Marina. Este contraste gera momentos bem bolados como a cena em que ele a veste e outras engraçadas como a transa que parece um interrogatório. Imprevisível em seu cruzamento entre crescimento e morte, Attenberg soa como um rito de passagem da adolescência para a vida adulta, ou o momento que precede a tormenta que se abateu sobre a Grécia.
Attenberg (Grécia/2010) de Athina Rachel Tsangari com Ariane Labed, Vangelis Mourikis, Evangelia Randou e Yorgos Lanthimos. ☻☻☻
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