O francês Florian Zeller estreou como cineasta com o genial Meu Pai (2020), filme que levou o Oscar de melhor ator para Anthony Hopkins e roteiro adaptado para o próprio Zeller (e Christopher Hampton), que levava um dos seus textos teatrais para. Ali o cineasta sabia exatamente como utilizar recursos cinematográficos para nos colocar na espiral de emoções do protagonista. O sucesso lhe deu aval para o filme seguinte, Um Filho, baseado em outro texto teatral da mesma trilogia. Havia uma expectativa gigante perante seu próximo passo nas telas e parte da decepção em torno do filme pode ser creditada à essa expectativa. Zeller imprime aqui um tom bastante convencional, mas existem outros problemas pelo caminho. Aqui conhecemos a história do empresário bem sucedido Peter (Hugh Jackman) que vive a dois anos com a nova esposa, Beth (Vanessa Kirby), que acabou de ter um bebê. Eis que Peter recebe a visita da ex-mulher (Laura Dern) sinalizando a preocupação com o filho do casal, Nicholas (Zen McGrath). O rapaz não vai à escola faz tempo, não tem amigos, não namora, não curte festas e diz que precisa morar com o pai. O paixão acha que é fácil resolver a situação, o leva para casa, mas na convivência Peter vai descobrir que a situação do rapaz é mais complicada do que imagina. Meu Filho pretende abordar a depressão mas tem dificuldades ao expor isso de fora para dentro, afinal, na maior parte do tempo vemos a impressão dos outros sobre o que o rapaz sente. Também não ajuda o fato de McGrath ser um ator pouco experiente para lidar com o peso e a complexidade que o personagem exige, deixando por vezes a depressão do menino embaçada com expressões um tanto difusas. Tendo um texto que ressalta cada vez mais o impacto da depressão do adolescente na vida da família, o filme acaba se atrapalhando em momentos manjados. Apesar do pleno destaque de Jackman (na pele de um pai que tenta fazer o que pode até descobrir da pior forma que só amor e boas intenções não basta contra a doença), suas colegas Laura e Vanessa fazem o que pode com o pouco destaque de suas personagens no desenvolvimento da história, parecendo sempre tocarem a mesma nota do início ao fim. Existem muitas flashbacks e diálogos que denotam o impacto da separação do casal na vida do rapaz, mas seria só isso que o aflige? Senti falta de uma fala mais especializada sobre a depressão do personagem, afinal o momento de mais impacto do psiquiatra na história é uma questionável cena de confronto dos pais com Nicholas. Um filho acaba desperdiçando um tema sério num arremedo de intenções que nunca se aprofundam (elas até dão sinais de vida naquela participação de Anthony Hopkins que alguns dizem ser uma reprise do personagem de Meu Pai) e o destino impactante de Nicholas acaba tendo um efeito estranho com aquela cena que parece uma versão menos inspirada do recurso utilizado por Xavier Dolan em Mommy (2014) só para fazer Hugh Jackman chorar em uma casa nova de paredes menos opressoras. A cena final e o encontro dele com Hopkins me fez imaginar que o título não é sobre Nicholas, mas sobre Peter e as suas próprias feridas revistadas na dor do filho, pena que o filme não consiga avançar. Resta agora esperar ver como Zeller dará forma à The Mother (o segundo texto teatral da trilogia) sobre uma mulher lidando com a solidão e os ressentimentos de uma vida dedicada à família.
Um Filho (The Son / Reino Unido - França / 2022) de Florian Zeller com Hugh Jackman, Zen McGrath, Vanessa Kirby, Laura Dern, William Hope e Akie Kotabe. ☻☻
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