Margaret (Rebecca hall) tem uma vida pessoal e profissional bem resolvida. Competente e respeitada, ela não tem do que reclamar. Na vida pessoal ela precisa lidar com a filha (Grace Kaufman) que está prestes a ir para a faculdade - e precisa lidar com um caso com um colega de trabalho (Michael Esper). No início alguns detalhes pontuam que existe algo estranho pairando sobre sua mente (que se materializa num dente encontrado num porta-níquel da filha), mas ela sai do eixo mesmo quando percebe um conhecido no meio de uma palestra. Margareth visivelmente se desespera e sua primeira medida é proteger a filha a todo custo. O espectador não faz muita ideia do que está acontecendo, mas suspeita que tenha relação de um conselho que ela deu para a estagiária (Angela Wong Carbone) sobre sinais de um relacionamento abusivo. Se existe a suspeita de uma relação abusiva no passado da protagonista o roteiro e a direção de Andrew Semans procuram ir além do que estamos acostumados neste tipo de filme, principalmente da forma como conduz a presença de David (Tim Roth), que marcou a história da personagem na juventude de forma bastante bizarra. O mais interessante do filme é como Margaret mergulha novamente nesta bizarrice, repetindo um padrão de comportamento do passado, ao mesmo tempo que tenta superá-lo por conta própria. Para todos os que estão ao seu redor, ela está enlouquecendo, para Margaret, ela está fazendo apenas o necessário para que tudo continue sob controle. Existe nas entrelinhas algo sobre traumas, maternidade, complexo de Laio e horror corporal, que move o filme numa crescente de estranheza até o final que tende deixar o público revoltado (e que pode render uma leitura literal e outra delirante que se estende até o último ato). Pelo menos até o final controverso (o qual prefiro o literal até o último ato embaçar tudo) o filme consegue manter a tensão da plateia em toda a estranheza que apresenta, muito por conta da interpretação visceral de Rebecca Hall envolta em uma atmosfera cada vez mais sombria. Eu já perdi a conta de quantos filmes de terror a atriz fez nos últimos anos e sempre me surpreendo com a desenvoltura com que ela vive suas personagens. Aqui, por exemplo, as transições da personagem são feitas sem desafinar, tendo aquele monólogo de quase oito minutos em que tomamos ciência do passado conturbado da protagonista. Se levarmos em conta o quão ridículo poderia ser o personagem de Tim Roth, o trabalho assustador do ator fica ainda melhor ao dar vida a um sujeito tão execrável e manipulador, digno de um filme de horror do David Cronenberg. Se quiser imaginar as várias camadas que o filme apresenta, esqueça o manjado título nacional e se concentre no original (Resurrection), bem mais evocativo e provocador perante a história que vemos na tela. O filme está disponível no TelecinePlay.
Sombras do Passado (Resurrection) de Andrew Semans com Rebecca Hall, Tim Roth, Grace Kaufman, Michael Esper e Angela Wong Carbone. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário