Plimpton e Isaacs: sobrevivendo à uma tragédia. |
O ator Fran Kranz marca sua estreia na direção com um drama intimista ancorado em diálogos bem lapidados e um elenco em sintonia perfeita. Mass conta a história de dois casais que se encontram para conversar sobre o ataque à uma escola que deixou dez vítimas e cujo autor tirou a própria vida após o episódio. Kranz nos poupa de ver a encenação do massacre, mas o descreve minuciosamente como um quebra-cabeça em menos de duas horas de filme, na trama ainda vemos o efeito daquele acontecimento na vida dos pais de uma das vítimas e dos pais do garoto responsável pelo incidente. O filme constrói sua tensão lentamente, da arrumação da sala da igreja que servirá para o encontro à chegada de cada personagem existe a atenção a cada detalhe que possa servir de gatilho para lembranças desagradáveis (seja lenços de papel ou os desenhos feitos por crianças que decoram o espaço), mas o que faz o filme crescer é a conversa entre os dois casais formados por Jason Isaacs e Martha Plimpton de frente para Ann Dowd e Reed Birney. Não vale dizer quem interpreta os pais de quem, já que faz parte das intenções do diretor ter empatia com as duplas antes que os fatos sejam revelados. Quando a conversa começa, ela surge formal, desajeitada, não avança em nome de uma cordialidade que logo é deixada de lado para que sentimentos densos como raiva, culpa, ressentimentos se misturem em diálogos simples e convincentes sobre os dois lados de uma tragédia. O fluxo da conversa é tão preciso que até esquecemos que são atores em cena. Porém, o maior desafio aqui é expor o ponto de vista do casal que precisa lidar com o peso de ter criado o responsável por um ato daqueles. Busca-se respostas, motivos e sinais de que algo estava errado. Se apontam negligências, surgem dúvidas, suspeitas, medos e lembranças que compõem um cenário bastante complexo sobre um acontecimento que os telejornais não dão conta de explorar em seu imediatismo. Embora a estrutura remeta ao teatro, Kranz consegue escapar de qualquer ranço teatral, entre planos, cortes, closes e enquadramentos, o diretor sabe usar os recursos que tem em mãos para estruturar o ritmo dos diálogos ásperos valorizados pelo elenco, sobretudo pelas mães vividas por Martha Plimpton e Ann Dowd que filtram sentimentos difíceis perante a câmera. Mass só derrapa quando o desfecho precisa surgir e o filme perde um pouco a sobriedade para querer arrancar lágrimas da plateia a qualquer custo. Não precisava de tanto esforço, a tristeza e a reflexão já estavam instauradas desde o início da conversa que busca uma resposta que talvez não exista.
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