sábado, 20 de maio de 2023

PL►Y: Undine

 
Paula e Franz: amor e mitologia.

Em 2009 o diretor Neil Jordan lançou Ondine, um belo filme sobre um pescador que se apaixonava por um ser mitológico que vivia na água. Em 2020 foi a vez do alemão Christian Petzold beber na mesma fonte para criar Undine, nome da criatura marinha que vez por outra vem à superfície seduzir homens na pele de uma mulher. A protagonista do filme é Undine Wibeau (Paula Beer), historiadora funcionária de um museu em Berlim responsável por apresentações sobre a reconstrução moderna da cidade após a Segunda Guerra Mundial. Quando o filme começa, seu namorado Johannes (Jacob Matschenz) termina o relacionamento com ela e, num tom inesperado, Undine diz que ele morrerá senão ama-la. O que parece uma declaração de amor obsessivo logo ganha outros contornos conforme percebemos que a protagonista não é uma mulher comum. Não demora muito para ela conhecer o mergulhador Cristoph (Franz Rogowski), com quem viverá um romance idílico até que a plateia comece a se dar conta de que existe uma maldição que paira sobre os romances desfeitos da moça. Essa ideia constrói não apenas a ideia de um romance proibido, mas também de uma verdadeira prisão afetiva repleta de culpa pela responsabilidade da morte pairar sobre alguém. A ideia se torna bem mais complexa do que podemos imaginar, especialmente quando a morte ou a vida passa a se relacionar com algo tão abstrato como um sentimento ainda existente ou não. No filme, "a vida" é a concretização da existência do amor entre os personagens. Parece brega, mas o filme está bem longe disso. O desafio de Petzold é inserir os toques de fantasia com os pés fincados na realidade, o que ele dá conta através das explicações entre o antigo e o novo, que aparecem várias vezes no filme, em uma alusão aos mitos ancestrais e a modernidade. Envolvendo a personagem em mistérios, Undine se desenvolve como um romance bem construído e envolvente, ancorado pelo bom trabalho da atriz Paula Beer (que só pela primeira cena já honra seu prêmio no Festival de Berlim) e de Franz Rogowski como o rapaz mais fofo do mundo (pelo menos até às coisas complicarem). Depois de fazer tantos filmes considerados pessimistas, Petzold mostra que existe um bocado de romantismo em sua criatividade e repete aqui a química da dupla com que realizou o aclamado Em Trânsito (2018) que permanece funcionando bem que é uma beleza. Com a nova versão de A Pequena Sereia prestes a sair, não deixa de ser curioso conhecer a trama em que o conto se inspira.

Undine (Undine / Alemanha - França / 2020) de Christian Petzold com Paula Beer, Franz Rogowsky, Jacob Matschenz, Maryam Zaree e Anne Ratte Polle.

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