A Casa: tão arrepiante quanto revoltante.
Existe uma boa explicação para a epidemia de filmes de terror "documentais" (como se num documentário a câmera ficasse tremendo de um lado para o outro), e ela está longe de ser a qualidade e mais próxima de ser o lucro, afinal esses filmes costumam ser muito baratos por serem gravados com câmeras caseiras, atores desconhecidos, quase nenhum uso de efeitos especiais, além disso o marketing de divulgação só precisa espalhar entre os desavisados que trata-se de um registro real dos fatos - foi assim com A Bruxa de Blair (1999) e foi retomado com Atividade Paranormal (2007), ambos independentes e canibalizados por Hollywood. Pior para o gênero terror que perde originalidade em filmagens cada vez mais vagabundas e paródias de si mesmas. Essa moda chegou até nos nossos vizinhos uruguaios. La Casa Muda foi lançado em 2010 e, à primeira vista, parece muito com a estrutura narrativa de Atividade Paranormal, a diferença é que desde o início percebemos a preocupação cênica da produção (mesmo com o custo de 6 mil dólares, uma ninharia perto dos filmes brasileiros recentes). Apesar de não curtir esse tipo de filme, devo admitir que o diretor Gustavo Hernández sabe manipular muito bem os nervos da plateia, usando pouca luz (outro vício dos filmes de terror recentes) e uma narrativa que tem no silêncio um grande trunfo. A Casa tem momentos insuportáveis de tensão, pena que seu desfecho não esteja à altura do desempenho do esforço em construir uma atmosfera estranhamente atraente. Enquanto um homem e uma mulher seguem pelo meio do mato até chegar numa casa abandonada, escuta-se apenas a trilha sonora minimalista arrepiante, esta é a forma de Hernández apresentar o clima que irá pontuar toda a trama. Não fica muito claro quem são aqueles personagens, mas logo é acrescentado outro personagem e entendemos que Wilson (Gustavo Alonso) e sua filha, Laura (a boa Florencia Collucci) passarão a noite na tal casa para que possam ajeitá-la para a venda que o proprietário planeja. O proprietário apenas diz que quer se desfazer da casa por conta das memórias que ela guarda e sua única observação sobre ela é que os dois não subam para o segundo andar (já que alega ter muitas tábuas soltas). Há de se dizer que Laura e Wilson são dois dos personagens mais corajosos que já andaram sobre a terra! Afinal, não bastasse a casa estar em frangalhos, ainda fica no meio do nada e não possui energia elétrica (o que faz com que os dois andem sempre com as lanternas responsáveis pelo fiapo de luz que a fotografia precisa explorar). Os dois tentam dormir, mas Laura escuta um barulho no andar de cima e, após muita insistência, Wilson vai ver o que há lá em cima e... não posso contar mais do que isso. O filme mistura uma série de referências, lembra Os Outros (2000) de Alejandro Amenábar (na forma como explora a escuridão de uma "casa mal assombrada") e A Bruxa de Blair na forma como mescla o pânico à solidão e em seu formato nervoso. O pior é que quando pensamos que entendemos o que está acontecendo o filme dá uma reviravolta maluca - que causa mais raiva do que surpresa ou medo. O fato é que ao contar uma história real ocorrida num vilarejo do Uruguai no ano de 1944 o filme opta por basear-se no olhar de um personagem, mesmo que a plateia possa se sentir traída no final. Acho que já falei demais. Além da tensão que precede a decepção, o filme merece ser visto por ser feito todo em plano sequência em seus 78 minutos de duração (ou pelo menos, não possui cortes perceptívies - embora saibamos que eles estão camuflados nas cenas de breu total). É bom assistir os créditos, já que eles revelam um desfecho que tenta consertar o estrago. Precisa dizer que o filme fio refilmado nos EUA com o nome de A Casa do Silêncio no ano passado? Pobres filmes de terror...
A Casa (La Casa Muda/Uruguai-2010) de Gustavo Hernández com Florencia Collucci, Gustavo Alonso e Abel Tripaldi. ☻☻
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