Riley e Andrea: o monstro, o anjo e a Mulher Maravilha.
Os críticos foram unânimes em considerar a atuação de Andrea Riseborough a melhor coisa de W/E, a segunda malfadada aventura da popstar Madonna atrás das câmeras. Se você assistiu pelo menos o trailer ou qualquer foto referente às cenas em que Andrea interpreta a Wallis Simpson você vai entender o motivo - e se assistir a atriz em O Pior dos Pecados, ficara ainda mais impressionado com ela. Ela é uma camaleoa! Se na pele de Wallis ela está mais do que convincente como uma mulher madura, aqui ela se passa por adolescente (17 anos!) sem dificuldade alguma. Eu mesmo não a reconheci, fiquei com aquela sensação de que a vi em algum lugar (a cantada mais velha que existe), mas só vi que era a mesma atriz quando li a filmografia da moça no IMDB. Baseado na obra de Grahan Greene, o filme é bem sucedido em reproduzir aquela tensão dos filmes da década de 1960. O estreante Rowan Joffe tem um bocado de coragem ao colocar seus personagens pautados por perfis fortes, quase estereotipados de tão demarcados, mas ainda assim funciona com muito suspense, doses de romance e até algum humor (negro). O filme conta a história de Pinkie (o ainda pouco valorizado Sam Riley), um jovem gangster que já foi batedor de carteira e que tem seu líder como um pai - pena que esse lado do personagem nós não vemos, já que seu líder morre logo na arrepiante cena inicial. Em meio a rixa entre dois grupos rivais, Pinkie busca a sua ascensão no bando se conseguir eliminar Hale (Sean Harris), o assassino de seu mentor. Ele até consegue dar cabo de seu algoz, mas a coisa complica por conta de uma testemunha involuntária, a jovem garçonete Rose (Andrea) que foi assediada por Hale pouco antes dele ser assassinado - e que pode identificar um dos comparsas de Pinkie, ajudando a polícia na investigação. Eis que o jovem resolve se aproximar da moça para evitar que ela faça qualquer denúncia. Ainda que conte com o talento dos veteranos Helen Mirren (como a amante de Hale e patroa de Rose) e John Hurt (como um grande amigo dela), o centro do filme está na relação arrepiante de Pinkie e a testemunha. Riley consegue utilizar seu rosto de menino para compor um monstrinho, um sociopata capaz de grandes (e pequenas) crueldades, mas que (até certo ponto) sente algo diferente por Rose. Ainda que resista bravamente em demonstrar carinho por ela na maior parte do tempo (afinal, seria sinal de fraqueza), são nos poucos beijos que trocam durante o filme que vemos que debaixo de toda aquela pompa de malvado, existe um ser humano. Ver a relação entre o casal é como ver um anjo sendo seduzido pelo diabo. Rose é tímida, visivelmente desajeitada e tem (seria?) ilusão de que Pinkie realmente a ama, por mais que perceba que está mais interessado em afastá-la da polícia do que qualquer outra coisa. Ainda que boa moça, Rose acredita que numa vida sem perspectivas, o jovem gangster seria a sua melhor aposta. É arrepiante ver os rumos que a relação de ambos irá tomar até a última cena juntos - onde a face de Pinkie recebe contornos equiparados às maiores atrocidades que cometeu. O mais interessante é que Joffe se arrisca um bocado ao exacerbar seu vilãozinho como um monstro, sua mocinha como boazinha demais e a personagem de Mirren como uma espécie de Mulher-Maravilha da terceira idade. Pode soar exagerado (some a isso a atuação afetadíssima de Andy Serkis como o rival da gang de Pinkie), mas tudo funciona em meio ao clima agitado que conturbou a pequena cidade de Brighton com a fúria Mod na década de 1960. Com boas atuações, excelente trilha sonora, montagem impecável e reconstituição estilosa, O Pior dos Pecados surpreende e merece ser descoberto nas locadoras.
O Pior dos Pecados (Brighton Rock/Reino Unido-2010) de Rowan Joffe com Sam Riley, Andrea Riseborough, Helen Mirren, John Hurt e Andy Serkis. ☻☻☻☻
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