Germano: realismo premiado em Cannes.
Inédito nos cinemas brasileiros, La Nostra Vita ficou conhecido por aqui somente quando seu ator principal, Elio Germano, dividiu com Javier Bardem (Biutiful/2010)o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes em 2010. Curiosamente os dois personagens tem várias semelhanças, a diferença é que enquanto o espanhol se vê num universo cheio de excessos construídos pelo diretor Alejandro Gonzalez Iñarritú, Elio Germano tem ao seu favor a direção de Danielle Luchetti que prefere ser econômico e deixar que as situações aconteçam num encadeamento natural, sublimado pelo realismo e alguma poesia. É como se o tempo inteiro, Luchetti soubesse que todo o drama das situações cotidianas do protagonista pudesse ser expressado pelo olhar de seu ator principal. Germano interpreta Claudio, um homem comum que divide a vida entre o trabalho em obras no subúrbio de Roma e o lar, onde descansa ao lado da esposa grávida (Isabella Ragonese) e seus adoráveis dois filhos pequenos. Sua vida é tão segura quanto previsível e o filme mostra o quão confortável isso pode ser - mesmo com os namoros noturnos interrompidos pelos pequenos ou nos almoços com os familiares no fim de semana. A lógica desse universo tão particular começa a se transformar quando Claudio descobre um homem morto no fundo o poço do elevador em que trabalha. Trata-se do vigia noturno, um imigrante ilegal que morreu ali por acidente - e o patrão de Claudio quer enterrá-lo ali, fingindo que nada aconteceu. Mal vive esse dilema, uma tragédia familiar acontece e ele precisa aprender a viver sozinho com seus três filhos. Luchetti não investe no melodrama, ao contrário, apresenta as situações como se elas ficassem pela metade, como se coubesse ao espectador construir a sequência de cada uma delas. Não chegam a ser cenas soltas graças à intensidade que Germano consegue imprimir a cada cena de seu personagem. Mesmo quando está calado, podemos perceber que existe um bocado de fúria prestes a explodir, mas que ele saberá controlar. Embora sua vontade de enriquecer possa guiá-lo por caminhos pouco ortodoxos, ele está longe de ser um vilão - e nisso seu personagem parece mais ainda com o de Javier Bardem em Biutiful. Tendo que lidar com dois filhos e com imigrantes ilegais, nem sempre suas atitudes serão as mais corretas. O mais interessante do filme é ver a construção de um personagem assustadoramente humano, equilibrando-se entre qualidades e defeitos e que consegue conquistar a nossa simpatia e torcida. Luchetti consegue conduzir os acontecimentos como se não assitissemos um filme, mas acompanhassemos o dia-a-dia desse personagem numa espécie de documentário onde os coadjuvantes aparecem pouco e sempre tem alguma colaboração para a jornada de Claudio, seja o vizinho cigano casado com uma imigrante africana, seja o irmão tímido (Raoul Bova) ou a viúva do homem encontrado morto e Andrei, o filho do operário morto - que terá um dos momentos mais importantes da trama, onde fica ilustrado magistralmente o quanto a verdade pode doer. Sem grandes surpresas o filme avança até o final onde revela que mesmo num ambiente marcado pela dureza da realidade, ainda pode existir um espaço para a fantasia.
La Nostra Vita (La Nostra Vita/Itália-França-2010) de Daniele Luchetti com Elio Germano, Isabella Ragonese, Raoul Bova e Luca Zingaretti.
☻☻☻
☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário