quinta-feira, 24 de maio de 2012

DVD: Histórias Cruzadas


Não é todo dia que podemos desfrutar de um filme repleto de talentos. Não digo um desses filmes cheios de celebridades que pretendem arrecadar milhões de bilheteria a bordo de um roteiro preguiçoso, mas um filme de verdade com atores consistentes que podem não ser muito conhecidos pelo grande público, mas que conseguem nos fazer lembar o que é um verdadeiro talento diante das câmeras. Histórias Cruzadas é uma grande coleção de talentos femininos, atrizes veteranas e novatas brilham como ouro em pó no filme do estreante Tate Taylor - prova disso é que juntas levaram o Prêmio do Sindicato de Atores na categoria Melhor Elenco de 2011. Bastou o filme (adaptado do best-seller baseado em fatos reais de Kathryn Stockett) estrear para que todo mundo o apontasse como um dos favoritos  ao Oscar. Parece pouca coisa, mas não é fácil um filme estrear em agosto e permanecer na memória coletiva de votantes em premiações e do público até o início do ano seguinte. Embalado pela aclamação do público e de parte da crítica, o filme ainda fez os sobrinhos do Tio Sam refletirem sobre um passado recente que explica muito sobre seu presente. Apesar de alguns críticos apontarem defeitos na inexperiência de Taylor (que foi escolhido por ser amigo da escritora), há de se concordar que ele consegue evitar que o filme caia no melodrama barato, retratando nuances doloridas na relação das empregadas negras com as patroas brancas do preconceituoso estado do Mississipi na década de 1960. O filme é narrado por Aibileen (a magistral Viola Davis, que recebeu o prêmio do sindicato dos atores deste ano e quase impediu a terceira oscarização de sua amiga Meryl Streep), uma doméstica que cuida dos filhos de uma jovem dondoca que prefere conversar com qualquer amiga do que passar um tempo com os filhos. A jovem patroa ainda pertence ao grupo da esnobe racista-mor Hilly Holbrook (Bryce Dallas Howard, colocando a carreira nos eixos) que pertence a uma espécie de comitê racista que prega ações como um banheiro separado para as domésticas negras por motivo de higiene. Hilly é a patroa de Minny (Octavia Spencer, ganhadora de todos os prêmios de coadjuvante da temporada), uma pessoa que está prestes a explodir com os atos da moça (ainda mais quando ela precisa enfrentar uma tempestade para ir no seu banheiro "privativo" do lado de fora da casa). Existe um bocado de crueldades nas histórias dessas personagens - e não apenas as relacionadas ao cotidiano no lar dos brancos, mas numa sociedade que tendia a segregá-los cada vez mais, mesmo quando a cruzada de Martin Luther King começou a ganhar força. Numa sociedade opressora onde os negros eram vítimas de preconceito a todo instante existe a jovem jornalista  Skeeter Phelan (Emma Stone, provando de vez que pode fazer mais do que comédias adolescentes), que, assim como todas as suas amigas, foi criada por uma babá negra, mas enxerga com mais criticidade o racismo mal-disfarçado de sua época. Skeeter convidará Aibileen para ajudá-la numa coluna sobre prendas domésticas num jornal local e depois irá convidá-la a relatar sua história em um livro. Não vai demorar muito para Minny colaborar com a atitude. Para completar o rico universo de personagens femininas, ainda existe Celia Foote (a sempre competente Jessica Chastain, indicada ao Oscar de coadjuvante), uma loura que vive isolada da cidade com seu esposo e que tem atitude completamente diferente das outras patroas que aparecem no filme. Sei que há quem torça o nariz para o fato de Skeeter servir de porta-voz para as mulheres negras do filme, servindo de libertadora e blábláblá mas é um exagero! Embora Skeeter não fuja do estereótipo de menina-a-frente-do-seu-tempo, se observarmos históricamente a história do estado onde nasceu a Ku Kux Klan, seria quase impossível que as histórias dessas mulheres conseguissem por conta própria a projeção que o livro causaria. Além disso, a salvadora da história é Aibileen que fez Skeeter ser quem é. Sem abordar o racismo através do sensacionalismo, o diretor tem consciência de que suas atrizes são capazes de envolver as plateias com mais eficiência do que muito discurso panfletário. Equilibrando doses generosas de humor com os dramas de pessoas comuns, Histórias Cruzadas é um filme que faz rir e pensar em igual medida, afinal de contas, são as relações que nos marcam como indivíduos. 

Stone, Spencer e Davis: ótimos desempenhos contra o racismo. 

Histórias Cruzadas (The Help/EUA-2011) de Tate Taylor com Viola Davis, Emma Stone, Octavia Spencer, Jessica Chastain, Bryce Dallas Howard, Allison Janney, Sissy Spacek e Mike Vogel. 

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