O Jogo das Sombras: Moriarty e Sherlock sem empolgar
Se o Oscar criasse a categoria Fênix entre suas categorias, Robert Downey Jr. teria ganho fácil há alguns anos. Lembro de todos os problemas que teve com álcool e drogas e nos últimos anos reconquistou o respeito dos colegas ao estrelar Homem de Ferro (2008) e recebendo indicações a prêmios - seja por Trovão Tropical (2008) ou Sherlock Holmes (2009), que lhe rendeu um Globo de Ouro. Com duas franquias milionárias em suas mãos (e nem estou contando as continuações de Os Vingadores), o cara não tem do que reclamar. Embora eu considere que ele está cada vez mais sendo um tipo do que um personagem, eu teria que ser muito rabugento para não dar algumas risadas com o que ele faz na pele do agente mais famoso da Scotland Yard. Quando estreou a primeira versão de Guy Ritchie para Sherlock Holmes, devo confessar que estranhei um bocado. Ele estava sem cachimbo, dominando artes marciais muito bem e com um humor que nunca havia reparado possuir. Pudera, o filme não era baseado no clássico personagem de Arthur Conan Doyle, mas numa releitura feita numa HQ que nem chegou a ser lançada. Do Sherlock original havia restado apenas o nome, a astúcia, o período histórico (final do século XIX) e as piadinhas com seu fiel assistente Dr. Watson (Jude Law, em sua melhor atuação em muuuuito tempo), que estava prestes a se casar com Mary (Kelly Reilly). Com o filme Ritchie tirava o pé do casamento malfadado com Madonna, que quase levou sua carreira para o ralo. O cineasta retomava o ritmo ágil de narrativa e tramas emaranhadas tratadas com a segurança de quem sabe que um mais um são dois. No filme, Holmes e Watson somavam forças para desmascarar uma ameaça à Inglaterra, essa ameaça se chamava Lorde Blackwood (Mark Strong), um ilusionista considerado morto e que parece estar assombrando o país com uma série de crimes através de magia negra. O roteiro conseguia ser esperto o suficiente para misturar as investigações com os dilemas de Sherlock com sua atração pela ladra Irene (Rachel McAdams) e a promessa de ser abandonado por Watson. Com bom ritmo e visual interessante, Ritchie até que conseguiu me fazer engolir este detetive clássico repaginado. Pena que a ousadia não teve fôlego para gerar uma continuação igualmente interessante. Sherlock Holmes: O Jogo das Sombras falha em vários aspectos. A trama deste aqui, para quem conhece o personagem clássico, tinha o apelo irresistível de ser o confronto do detetive com seu maior inimigo - o Professor Moriarty (Jared Harris, da série Mad Men) - mas o roteiro dá tantas voltas que consegue ser desinteressante de tão confuso. A edição do filme colabora ainda mais para essa sensação, já que opta por contar como funciona a mente do detetive em cenas rápidas que antecipam suas ações. O recurso pode até ser interessante no início, mas lá pela terceira vez já incomoda e parece querer apenas disfarçar a falta de assunto do roteiro baseado na ligação de Moriarty com uma série de crimes que podem caminhar para uma Guerra Mundial. No início as investigações parecem só uma desculpa para Holmes atrapalhar a lua-de-mel de Watson, mas a coisa se mostra séria quando Irene se torna uma das vítimas de Moriarty. Embora o roteiro seja cheio de gracinhas (as alfinetadas sobre o affair Holmes/Watson tenham ficado mais explícitas), falta a energia obscura que perpassava a aventura anterior. O suspense peca ao investir no desaparecimento do irmão de uma cigana, Simza (Noomi Rapace da trilogia sueca Millenium) que não tem muito o que fazer na trama do que correr com a dupla principal. Eu queria saber quem foi o pateta que achou melhor tirar Rachel McAdams do elenco e colocar Noomi Rapace! Sem os piercings e visual punk de Lisbeth Salander a atriz está com a expressão congelada o filme inteiro escondida por uma cabeleira exagerada. Ela não convence nos poucos diálogos e simplesmente o personagem não decola. Ela não é a única deslocada na história, o irmão de Sherlock, Mycroft (Stephen Fry) também tem quase nada para fazer. No fim das contas, O Jogo das Sombras se alimenta das lembranças do primeiro filme, mas não é capaz de criar a vontade de assistir um terceiro filme.
Watson, Holmes e Irene: o primeiro é muito melhor.
Sherlock Holmes (EUA-Alemanha-Reino Unido-2009) de Guy Ritchie com Robert Downey Jr, Jude Law, Mark Strong, Rachel McAdams, James Fox e Kelly Reilly. ☻☻☻
Sherlock Holmes: O Jogo das Sombras (Sherlock Holmes: Game of Shadows/EUA-2011) de Guy Ritchie com Robert Downey Jr, Jude Law, Jared Harris, Noomi Rapace, Stephen Fry, Kelly Reilly e Rachel McAdams. ☻☻
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