Faris e Evans: momento Borat.
Quando vejo uma comédia romântica eu percebo um dilema como aquele de "quem veio primeiro, o ovo ou a galinha"? Isso porque nunca consigo chegar à conclusão se os personagens desse tipo de filme motivam as pessoas a ficarem mais idiotas ou se os idiotas motivam esse tipo de filme. O pior de tudo é que trata-se de um gênero com seguidores fiéis, que costumam pagar ingressos para ver sempre a mesma coisa: um casal que se desentende até o final, onde descobrem que são feitos um para o outro. Obviamente que existem exceções para esta fórmula, mas elas só parecem confirmar a regra. Qual é o seu Número? Não chega revolucionar o gênero (e nem quer isso), mas rende algumas situações curiosas em sua pouco mais de hora e meia de duração. Claro que os personagens não fogem ao padrão bidimensional de noventa por cento do gênero, mas pelo menos a dupla central possui vestígios de massa encefálica - mesmo que a trama parta de uma premissa bobinha, mas que o roteiro explora com invejável cara de pau. Ally (Anna Faris, interpretando a mesma personagem de sempre) é uma jovem que se depara com uma pesquisa que constata que uma mulher com mais de 20 parceiros sexuais tem 96% de chance de permanecer solteira. A partir daí, ela reluta em acreditar que seus vinte ex-namorados foram pura perda de tempo e que a solteirice caiu sobre ela como uma espécie de maldição (colabora muito para isso a proximidade do casamento de sua irmã). Ally se recusa a acreditar que os vinte caras que atravessaram o seu caminho a fizeram perder seu precioso tempo - já que nenhum deles era sua alma gêmea. Diante dessa constatação, ela resolve procurar seus ex para convencer a si mesma que no meio de todos eles estava o homem de sua vida. Como ela não tem a mínima habilidade para a investigação que ultrapasse o google ou o facebook ela conta com a ajuda de um vizinho mulherengo (Chris Evans, relaxadamente canastrão) que após seduzir a mulherada costuma se esconder na casa da vizinha até que elas deixem seu apartamento. Precisa dizer mais alguma coisa? O roteiro até evita que Ally gaste nossa paciência encontrando cada um de seus ex-namorados, apresentando ao público somente alguns com os quais ela acredita ainda ter alguma chance (geralmente introduzidos por cenas de flashback temperadas com bizarrices). Entre os que casaram, tiveram filhos, ficaram noivos de cientistas, tornaram-se politicamente influentes, ricos ou continuaram na mesma é até divertido acompanhar a saga de Ally e seu vizinho que mostra-se mais gente boa do que aparentava. É o tipo de filme que você só precisa desligar o cérebro e acreditar que ela é forte e suficiente para resistir a aproximação cada vez maior com seu cúmplice (principalmente por ele ser o número 21 de sua lista!!!). Não vou nem ousar apontar semelhanças do filme com Alta Fidelidade (2000) que era baseado no best seller de Nick Hornby. O diretor Mike Mylod pode não se distanciar muito do trivial, mas consegue temperar seus personagens com uma desenvoltura incomum - especialmente na capacidade de Evans aparecer sem roupa para agradar a plateia feminina. Falando em Evans fico impressionado com sua capacidade de fazer todo tipo de filme, aqui ele pode ser o mesmo pateta de Quarteto Fantástico (2005), mas ele já mostrou que consegue ser sério (até demais) como Capitão América (2011) e na pele do astronauta encrenqueiro de Sunshine (2007), para quem estreou como o desconhecido de Celular (2004) ele bem que já merecia um papel mais complexo para ver se alcançava voos mais altos. Mas voltando ao filme, Qual é o seu número? é uma verdadeira comédiota romântica - e tem o maior orgulho disso.
Qual é o seu número? (What's your number?/EUA-2011) de Mike Mylod com Anna Faris, Chris Evans e Mike Vogel. ☻☻
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