Harris e Moore: com quanta informação se faz uma candidata?
Este Na Tela é diferente, uma vez que não é sobre um filme em cartaz no cinema, mas um filme feito para a TV com o padrão HBO de qualidade - que estreou neste fim de semana na programação do canal. Baseado no livro de Mark Halperin que busca destrinchar a campanha de oposição à Barack Obama à presidência americana em 2008, o canal apostou no apelo político da produção. O filme se concentra na campanha de John McCain, mais especificamente quando precisava aumentar a sua popularidade e escolheu, junto aos seus assessores, a governadora do Alaska, Sarah Palin para dar uma vitaminada à sua campanha - no posto de candidata à vice-presidência. Muito se questiona no filme sobre onde termina a realidade e começa a ficção, uma vez que existem situações e personagens que não existem na vida real. No filme, a escolha de Palin deve-se à sua argumentação sobre energia, sua campanha contra o aborto e fatos de sua vida pessoal (casada, cinco filhos - sendo um deles soldado no Iraque e o caçula com síndrome de Down) que causavam uma identificação instantânea com os eleitores republicanos, some a isso um magnetismo ímpar e será fácil entender como ela foi parar na campanha de McCain. Palin é interpretada pela soberba Julianne Moore, que imprime nuances variadas à personagem sem perder de vista sua dimensão humana numa montanha-russa de emoções, sua personagem é exposta ao ridículo com o mesmo vigor como é exaltada pela sua desenvoltura em discursos. Palin é mostrada como uma candidata despreparada ao cargo que pretende ocupar, seu pensamento é mostrado como provinciano ao excesso (em meio à uma exposição nacional ela sempre pergunta sobre as pesquisas de opinião no Alaska - que estava longe de ser uma prioridade da campanha, já que possui apenas três colégios eleitorais). Palin chega a não conhecer aspectos históricos importantes da política americana e internacional. Com o auxílio de Steve Schmidt (Woody Harrelson, mais sério que de costume) e Nicolle Wallace (Sarah Paulson), a tarefa de Sarah era se instruir para debates e entrevistas, mas ela se perdia entre inúmeras fichas de informações - as quais sob tensão, tornava-se ainda mais difícil compreender. Sarah Palin vai da euforia da candidatura, às crises com a pressão da imprensa sobre sua família e o passado na política. Aos poucos o nervosismo transforma uma candidata carismática em uma personagem cheia de conflitos, ao ponto de dizer sandices como o Alaska ser vizinho da Rússia (!?) - a situação virou alvo de piadas no humorístico Saturday Night Live (onde Tina Fey a ridicularizou algumas vezes - e por pouco Fey não ficou com o papel por conta da semelhança física). Moore consegue alcançar notas variadas em sua atuação, mas ressalta o tempo todo a ambição que existia debaixo da aparente ternura de Palin. De fala vigorosa e mente um tanto confusa, ela se torna o personagem mais bem cuidado do filme. No início eu pensei que a produção iria aprofundar sua relação com John McCain (nunca pensei que Ed Harris poderia ficar tão parecido com ele), mas esta fica apenas na superfície, deixando que ele seja apenas uma figura admirada por ela. Existe um bocado de crítica à forma como McCain é mostrado, ele aparece como um senhor simpático e bem intencionado, capaz de retroceder quando a campanha parte para a baixaria em ofensas a Obama. Dizem que o verdadeiro McCain é um sujeito bem mais amargurado do que aparece no filme, mas ele aparece tão pouco que temos a impressão de que ele foi o que menos trabalhou na campanha - deixando Schmidt e Palin com o trabalho árduo e as rugas de campanha. Apesar do roteiro enfileirar guinadas nem sempre bem desenvolvidas, o resultado consegue ser envolvente (o que é notável para um filme sobre política) e até uma análise curiosa sobre a figura de Sarah Palin (especialmente na aclamação pública perante a derrota). O mais impressionante é que a obra foi feita por Jay Roach (o mesmo do premiado Recontagem/2008 também da HBO), que demonstra saber lidar com temas políticos com desenvoltura na telinha - enquanto no cinema está envolvido em comédias de sucesso como Entrando numa Fria (2000) e fracassadas como Um Jantar para Idiotas (2010), isso só não é mais impressionante do que descobrir que a verdadeira Sarah Palin gostou mais da imitação cômica de Fey sobre a sua figura do que da atuação de Julianne Moore!
Game Change (EUA/2012) de Jay Roach com Julianne Moore, Woody Harrelson, Ed Harris e Ron Livingston. ☻☻☻☻
Game Change (EUA/2012) de Jay Roach com Julianne Moore, Woody Harrelson, Ed Harris e Ron Livingston. ☻☻☻☻
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