segunda-feira, 14 de maio de 2012

Na Estante: Madonna - 50 Anos

Faz algumas semanas que eu conversava com uma amiga sobre como era interessante nossa vida de leitor. Eu começo a ler vários livros, alguns eu consigo terminar, outros deixo pelo caminho - alguns desses eu retomo, uns ficam só na vontade de recomeçar em outra oportunidade. É estranho como os critérios para acompanhar um livro até o final parece ser mais inconsciente do que consciente. Eis que na minha pilha de livros (é sério, deve ter uns dez nela atualmente), o que tive fôlego de terminar recentemente foi essa biografia da popstar Madonna. Não gosto muito de biografias, mas é um gênero que recentemente me chamou atenção. Lucy O'Bryen já havia mostrado que era capaz de escrever sobre o universo pop de forma interessante em She Bop e na biografia de Annie Lennox, mas aqui ela dá um passo mais largo ao explorar a história da construção do mito que se tornou Madonna. No primeiro capítulo, a escritora apresenta uma situação que perpassará toda a carreira da cantora - a morte da mãe vitimada pelo câncer. Parece que naquele ponto, Madonna mudou seu olhar sobre as relações familiares e sua relação e religião - suas provocações e sexualidade utilizada como marketing nasceram daí. É interessante acompanhar o período em que Madonna frequentava grandes companhias de dança em Nova York até o momento em que decide que deveria estar no centro dos holofotes. São citados muitos nomes de quem conviveu de perto com ela e, desde o início, fica claro que a loura sempre foi bastante astuta nos negócios quando sentia o cheiro do sucesso. Quem gosta de fofocas (as pendengas de Madonna com Courtney Love, Boy George e até alguns comentários de Cindy Lauper) terá como se divertir, mas o melhor do livro é a forma como Lucy trabalha as ideias por trás dos álbuns (a relação do divórcio com Sean Penn por trás da sonoridade mais sombria e ousada de Like A Prayer/1989, a maternidade e a cabala em Ray of Light/1998 e a volta às pistas com Confessions on a Dance Floor/2005), clipes (a de Secret é a mais interessante, sabia que Madonna foi a primeira a perceber o potencial cinematográfico do livro de Saphyre que deu origem ao longa Preciosa/2009) e das turnês, um dos aspectos mais elogiados de sua carreira. O'Bryen ainda faz o favor de não se prender muito aos inúmeros relacionamentos da cantora (dedicando mais espaço aos seus casamentos com o ator Sean Penn na década de 1980 e com Guy Ritchie no século XXI), priorizando uma apreciação crítica dos diversos caminhos que a estrela resolveu seguir, da carreira cinematográfica com atuações criticáveis (passando pela premiação no Globo de Ouro com Evita/ e o fundo do poço com sua parceria com Guy em Desntino Insólito/, onde, depois dele, resolveu nunca mais atuar no cinema), sua carreira como autora (sofrível) de livros infantis e até como diretora cinematográfica (o livro aborda até o momento em que Sujos e Sábios/2008 foi massacrado em Veneza. O'Bryen nunca perde de vista a tentativa de compreender melhor Madonna, a forma como lida com o sucesso e com os fracassos. Em suas contradições como pessoa destaca-se os momentos em que é a mãe dedicada (e que cria polêmica até quando adota uma criança de um país miserável), a garota nascida em Detroit com humor grosseiro e arrogante, a artista nascida no underground que torna-se senhora de terras no Reino Unido, a cantora de voz pequena que luta pelo reconhecimento de ter pavimentado o caminho para Britneys e Gagas, a estrela que não consegue viver sem os holofotes... O livro sempre ressalta o quanto esse mundo pop é escorregadio e o esforço de Madonna em captar referências que possam fluir através dela. Às vezes as situações soam afetadas, postiças e até forçadas em todo esse espetáculo (especialmente quando a estrela tende a filosofar sobre sua obra), mas percebe-se como Madonna é uma profissional dedicada e sabe exatamente o que quer quando entra em estúdio. O livro, lançado em 2008, termina quando Madonna está preparando o álbum Hard Candy (2008), curiosamente foi o momento em que os críticos começaram a repensar sua relevância no mundo pop - o que foi ainda mais questionado com o recente MDNA -, mas acompanhar a trajetória de três décadas dessa artista pela escrita de Lucy O'Bryen demonstra que depois de períodos conturbados ela costuma ressurgir com um sucesso ainda maior.

Madonna: o auge embalado por "Vogue".

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