Streep: premiação aguardada.
Famosa por ser a atriz recordista de indicações ao Oscar (17 ao total), todo mundo esperava que um dia Meryl Streep quebrasse a rotina de derrotas perante a Academia e emplacasse outro careca dourado em sua estante. Ela já fora agraciada por Kramer vs. Kamer (1979) e A Escolha de Sofia (1982), mas nenhuma atriz de sua geração conseguiu se manter tão popular perante a indústria, o público e a crítica nos últimos anos. Por isso mesmo, sua premiação era mais que esperada - e ganha um sabor especial quando chega com uma performance arrasadora como uma figura pública conhecida por todos. É inacreditável o que Meryl faz com Margaret Thatcher, a polêmica primeira ministra britânica, ainda mais que o filme da britânica Phyllida Lloyd tem sérios problemas. Baseado numa das maiores personalidade políticas do século XX, o filme se perde em meio as idas e vindas temporais com a desculpa de retratar a mente de sua biografada. A ideia é um recurso muito rico quando sabe ser utilizado (basta ver o efeito narrativo alcançado nos recentes O Escafandro e A Borboleta/2007 e Direito de Amar/2010), mas, infelizmente, Phyllida ainda não alcançou o domínio cênico necessário para que isso funcione como deveria (afinal seu outro filme no currículo é o tosco Mamma Mia!/2008. O resultado soa fragmentado e só não prejudica totalmente o filme por ter uma estrela do quilate de Meryl. O filme começa nos dias atuais quando a mente de Thatcher sofre com os efeitos do tempo. Reclusa em casa e cercada de cuidados, a companhia de Margareth é o fantasma de seu esposo, Dennis Thatcher (Jim Broadbent) - companhia que por vezes é reconfortante e por outras é irritante por demonstrar que a mente de Thatcher não funciona mais como antes. São nas memória que acompanhamos a trajetória da filha de quitandeiro que teve que enfrentar preconceitos para se impor no mundo masculino da política. Atenta às provocações e ágil em suas argumentações, Meryl consegue construir uma personagem fascinante mesmo com um roteiro episódico em demasia. Os melhores momentos do roteiro estão naqueles em que Thatcher se transforma em primeira ministra, mudando o visual e o tom de voz, pena que estes durem menos de quinze minutos. A decisão de retratar toda a vida da personagem em menos de duas horas se mostra um passo maior que as pernas, já que prejudica o melhor desenvolvimento de momentos importantes da vida da retratada. Sendo assim, fica pela metade sua relação com o casal de filhos gêmeos o suas medidas políticas que lhe renderam o célebre apelido de Dama de Ferro. O filme passa longe de questões delicadas como o fato dela ser a mãe do neoliberalismo com sua sede de privatizar tudo que seja estatal, o impacto que isso gerou sobre as classes mais baixas da Inglaterra e a violenta greve dos mineiros aparecem como uma sombra no roteiro. Tratada como uma heroína num universo machista, a diretora força um bocado para que sua homenageada ganhe nossa simpatia (em outros filmes o fato dela enxergar seu país como o umbigo do mundo estaria longe da mocinha da história). O filme não precisava dessa "censura" aos atos mais polêmicos de Thatcher, já que Meryl dá conta do recado de construir uma personagem forte e envolvente, mesmo com todos os tropeços do filme. Por nos envolver num filme mediano como esse, Meryl realmente merecia todos os prêmios.
A Dama de Ferro (The Iron Lady/EUA-2011) de Phyllida Lloyd com Meryl Streep, Jim Broadbent, Alexandra Roach, Harry Lloyd e Richard E. Grant. ☻☻☻
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