Close e McTeer: melhores do que o filme.
Foi em 1989 que Glenn Close deveria ter levado seu Oscar de melhor atriz para a casa por sua inesquecível Marquesa de Merteuil em Ligações Perigosas (1988) de Stephen Frears. Desde então Hollywood lhe reservou papéis de megera, mas nunca com a intensidade necessária para se sobrepor à personagem escrita por Chordelos de Laclos. O tempo passou e Glenn colecionou prêmios no teatro e na TV, mas a Academia do Cinema Americano a deixaria cada vez mais de lado. Ano passado, Glenn lançou aquele filme que deveria ser sua grande volta por cima, produziu, ajudou a adaptar o roteiro que havia interpretado no teatro e até compôs a canção tema. Não demorou para a imprensa especular sobre sua indicação aos maiores prêmios de cinema por sua atuação em Albert Nobbs, mas bastou o filme estrear para que suas chances diminuíssem gradativamente. São tantos os equívocos em Albert Nobbs que fica difícil se envolver com o drama do protagonista, ou melhor, da protagonista, já que Albert é uma mulher que precisa se vestir de homem para ganhar a vida trabalhando num hotel na Irlanda do século XIX. Infelizamente, existe uma série de aspectos na relação de Nobbs com sua imagem masculinizada que não são explorados no filme - como a sensação de poder e segurança provocada numa época onde as mulheres sofriam abusos frequentemente ou a chance de exteriorizar, ainda que sem erotismo, desejos que a personagem pretende esconder de si mesma. Apesar do roteiro não ser uma maravilha, o maior decepção é a direção de Rodrigo Garcia. O filho do escritor Gabriel Garcia Marques fez sua carreira no cinema a partir de dramas femininos consistentes e poderia ter feito deste longa sua obra prima, mas o resultado apenas demonstra que o diretor não leva o menor jeito para filmes de época. Existe um excesso tão grande de caras e bocas nos minutos iniciais que fiquei tentado a deixar o filme para outra ocasião. Pensei que aquelas expressões exageradas eram para ressaltar a construção que Glenn confere a Nobbs, um sujeito gentil e educado, mas que parece viver na sombra, invisível para os que o rodeiam. A atriz o compõe a partir de miudezas, olhares tristes e exala a sensação de que não pertence aquele corpo. A impressão de desconforto está presente o tempo todo na personagem, mas nem sempre consegue prender a atenção no início arrastado de uma narrativa que demora a engrenar. Quando a coisa começa a ficar interessante percebemos que no meio do caminho de Glenn Close tinha uma pedra, uma pedra talentosa chamada Janet McTeer. A atriz inglesa (esquecida após sua indicação ao Oscar por Tumbleweeds/1999) mostra-se o grande trunfo do filme, na pele de Hubert Page ela consegue criar uma personagem fascinante cuja masculinidade rude extrapola as roupas, trata-se de um trabalho de interpretação onde podemos perceber a inspiração que provoca em Nobbs ao ponto de fazê-lo enfrentar traços de sua personalidade que antes preferia camuflar. Neste momento onde o roteiro deveria lidar com a homossexualidade da personagem, Close poderia criar a guinada de sua personagem, mas o texto prefere tratá-lo com uma incômoda ingenuidade - onde Albert é incapaz de perceber o quanto é manipulado pela jovem camareira Helen (Mia Wasikowska) e o namorado dela, Joe (Aaron Johnson mostrando que pode ser gente grande). O que poderia ser um momento vigoroso na atuação de Close acaba tendo o efeito inverso, deixando seu personagem mais apático perante os demais - nem suas ilusões de abrir uma tabacaria e constituir família servem para evitar a apatia. Apesar dos bons momentos, Close é prejudicada pelo péssimo timing da direção que trata momentos dramáticos como se fossem cômicos (como o momento que McTeer mostra que é mulher) e que não consegue dar a profundidade necessária ao desfecho de sua protagonista. Ao evitar questões polêmicas sobre a relação masculino/feminino o filme perde sua riqueza deixando a sensação que uma bela ideia foi desperdiçada. Pelo menos Close conseguiu sua primeira indicação ao Oscar em mais de 20 anos! Se tivesse confiado a direção a um cineasta habituado aos filmes de época (como o amigo Stephen Frears) o resultado poderia ter sido bem mais satisfatório. Só para terminar: alguém pode me explicar qual a serventia de Johnatan Rhys Meyers na história?
Albert Nobbs (Irlanda/Reino Unido - 2011) de Rodrigo Garcia com Glenn Close, Janet McTeer, Mia Wasikoska, Aaron Johnson, Brendan Gleeson e Brenda Fricker. ☻☻
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