Krasinski e Maya: um lugar para chamar de lar.
Era 1999 quando Sam Mendes ganhou o Oscar de direção com seu filme de estreia, o aclamado Beleza Americana, embora não tenha repetido o sucesso deste nos anos seguintes, o inglês descendente de portugueses consolidou uma cinematografia onde examina a sociedade estadounidense com o distanciamento que só os estrangeiros podem ter. Dez anos depois de colecionar os prêmios mais prestigiados do cinema, Mendes lançou o seu filme mais modesto e, que por isso mesmo, foi o que teve menos atenção da mídia e do público. Isso não quer dizer que Away We Go seja desinteressante. Lançado no Brasil com o título um tanto desconjuntado de Distante nos Vamos, o filme apresenta o único casal feliz da carreira do diretor. Se na estreia de Mendes, Kevin Spacey e Annete Benning se debatiam entre o ser e o ter nas portas do século XXI, a coisa não era muito diferente na década de 1950 com Leonardo DiCaprio e Kate Winslet vendo o casamento naufragar em Foi Apenas um Sonho (2008). Burt (o altão John Krasinski da série The Office) e Verona (Maya Rudolph, a noiva de Missão Madrinha de Casamento) não tem a situação financeira confortável como os já citados, mas alimentam as esperanças de quem está prestes a trazer ao mundo o primeiro filho. Diante disso começam a pensar que a vida a dois precisa de algumas mudanças, especialmente no que se refere à moradia. A premissa é simples: o casal resolve visitar os estados americanos para escolher qual seria o ideal para criar o bebê. O estopim para essa busca é a despropositada viagem de dois anos dos pais de Burt (vividos por Catherine O'Hara e Jeff Daniels) quando o bebê estiver prestes a nascer. "Viemos morar aqui para ficar perto dos seus pais!", Verona ressalta ressentida, para pouco depois demonstrar o quão livre se sente em poder escolher um lugar para criar seu filho distante de qualquer fantasma que possa ter. As referências do casal são amigos e parentes que servem como uma espécie de cartão de apresentação das cidades - mas que podem ter um efeito tão negativo quanto positivo nas escolhas (exemplo disso é a, digamos, "espontânea" Lil vivida por Alisson Janney - que não é o tipo de pessoa que você gostaria de ter sempre por perto). O roteiro e a direção não forçam efeitos cômicos, elas apenas surgem pelo caminho de Burt e Verona, num equilíbrio entre o cômico e o dramático que se desenvolve sem pressa numa narrativa simples e eficaz que, por vezes, lembra alguns seriados americanos. Nessa proposta, colabora muito a simpatia que os atores emprestam a personagens tão comuns quanto a maioria da humanidade. Pelo caminho, mais do que encontrar a cidade ideal para viver, Burt e Verona se deparam com diferentes formas de lidar com a cara metade e com os filhos. Seja de forma fria ou afetivamente extremada (como personifica tão bem Maggie Gyllenhaal como a prima intelectual riponga), o roteiro promove uma espécie de vitrine de relações humanas até o ponto em que o casal se rende à ideia de que são eles que construirão aquilo que poderão chamar de lar. Embora o texto reserve momentos para Verona reclamar do seu estado físico, desabafar as preocupações com o batimento cardíaco do bebê (que gera uma piada que se repetirá várias vezes na história) além de rejeitar os pedidos de oficializar o casamento com seu marido, Maya e Krasinski conseguem demonstrar o amor que seus personagens sentem com valiosos gestos, um toque aqui, um sorriso ali, um olhar carinhoso acolá e o efeito é mais forte do que qualquer cena de sexo. Embora não seja o tipo de filme que mobiliza multidões e fatura milhões de bilheteria, fica difícil não se identificar com os personagens e a procura do lugar adequado para aumentar a família. Apesar do final descaradamente nostálgico, Away we Go é um filme capaz de dialogar com qualquer público e época.
Distante Nós Vamos (Away We Go/EUA-Reino Unido/ 2009) de Sam Mendes com Maya Rudolph, John Krasinski, Maggie Gyllenhaal, Catherine O'Hara, Jeff Daniels, Alisson Janney, Melaine Linskey e Chris Messina. ☻☻☻
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