O clã King: dramas tamanho família.
Definitivamente Alexander Payne não é mais aquele cineasta provocador de antigamente. Ele já dava sinais dessa mudança desde que trabalhou com Jack Nicholson em As Confissões de Schmidt (2002) e comprovou quando foi premiado no Oscar pelo roteiro adaptado de Sideways (2004). Mesmo assim, somente com Os Descendentes percebi que Payne mudou de vez. Alguns dirão que ele mostra-se mais maduro ao deixar de lado as gracinhas provocadoras de Ruth em Questão (1996) e Eleição (1999), mesmo assim, precisam me convencer que a maturidade deixou seus filmes mais interessantes. Não que seu filme indicado a cinco Oscars neste ano seja ruim, seria uma injustiça dizer que o filme estrelado por George Clooney não tenha méritos, mas considero parecido demais com um punhado de dramas familiares que já assistimos. Talvez por isso, o filme que era o grande favorito ao Oscar deste ano perdeu força e teve que se contentar com o prêmio de roteiro adaptado (concorreu ainda a filme, direção, ator/Clooney e edição). Matt King (Clooney, num ótimo momento) é um advogado que vive no Hawaii e desde o início deixa claro que não é por morar num cartão postal que sua vida é um paraíso. Após um acidente com a esposa, Matt terá que cuidar da filha caçula (Amara Miller) e ainda dar conta de um empreendimento imobiliário que afeta uma herança que está a gerações em sua família - uma das maiores proprietárias de terras da região. Enquanto tenta convencer os primos de que a venda da área em questão é uma boa ideia, ele tenta melhorar a vida doméstica, tanto que vai buscar a primogênita Alex (Shailene Woodley) e a compreensão dos sogros quando tem uma difícil decisão a tomar. É quando Alex retorna que os dramas de Matt darão uma guinada, já que descobre que a esposa o traia com um morador da região. Enquanto todos se despedem a matriarca da família, Matt e Alex partem em busca desse amante e acabam acertando seus próprios ponteiros numa cumplicidade que é muito bem trabalhada pelo filme. Obviamente que Payne salpica algumas gracinhas nessa jornada, sempre buscando equilibrar o drama que se desenha até o final. A maioria das piadinhas ficam por conta do amigo de Alex, Sid (Nick Krause) que entra como penetra na história e ajuda a aliviar a tristeza quando ela parece inevitável (a cena em que Matt e Sid conversam à noite é uma das mais interessantes do filme). Trata-se de um filme família, bem escrito, com belas paisagens e com uma mensagem sobre perdão que deve agradar o grande público graças ao tratamento simpático que Payne proporciona ao desenhar seus personagens (que se distanciam cada vez mais da caricatura, ganhando carne e osso conforme avança a trama). Existem momentos realmente curiosos, como o encontro de Matt com a família do amante ou a despedida inevitável ao final, mas sinto falta daquele Payne de outros tempos que sabia mostrar o olhar cortante de cidadãos comuns sobre o mundo que os rodeia. Agora, os cortes de seu cinema são mais fáceis de cicatrizar e acredito que não fosse o seu recente divórcio ele dificilmente teria encontrado o clima impresso neste longa (muitos críticos reclamam da forma como as mulheres são mostradas na trama, mas é um exagero, eu poderia reclamar da forma como os homens são mostrados no roteiro!). Acho que o grande mérito do filme - além das belas paisagens - é a química contruída entre Clooney e Shailene embalada por aquela trilha havaiana que já se tornou um dos mais saborosos lugares comuns do cinema (e nem vou falar da analogia de Sr. King com um determinado bicho para não estragar a doméstica cena final).
Os Descendentes (The Descendants/EUA-2011) de Alexander Payne com George Clooney, Shailene Woodley, Nick Crause, Robert Foster, Mathew Lillard e Beau Bridges. ☻☻☻
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