Irvine: montando o protagonista.
O ano passado tinha tudo para ser o ano de Steven Spielberg, além de lançar a animação As Aventuras de Tintim com produção de Peter Jackson, ainda arrumou tempo para fazer um daqueles filmões que sempre aparecem indicados para uma penca de Oscars. Cavalo de Guerra chamou atenção do diretor quando chegou ao teatro com base no livro de Michael Morpugo, o diretor ficou fascinado com o texto que retrata o olhar de um cavalo sobre a 1ª Guerra Mundial - e a montagem utilizando bonecos tornou a experiência ainda mais interessante. No cinema, o criador de ET sabia que era mais do que arriscado atribuir a narrativa a um bicho, por isso preferiu deixar que as cenas com o cavalo Joey falassem por si só. Ciente de que o público poderia rejeitar um filme protagonizado por um cavalo pensante, ele resolveu ampliar a participação do primeiro dono do equino na trama, o jovem Albert (o estreante Jeremy Irvine). Albert é filho de um camponês (Peter Mullan) que foi herói de guerra e possui problemas para manter a casa ao lado da esposa (Emily Watson). Para piorar a situação ao invés de comprar um cavalo forte o suficiente para arar a terra, ele acaba comprando o inexperiente Joey. Enquanto todos acham que Joey jamais será capaz de realizar a tarefa, Albert acredita que com o treinamento certo o cavalo dará conta do arado. Embora Spielberg não seja muito original ao contar essa história de superação, o cavalo consegue ganhar nossa simpatia mais do que qualquer coisa. Irvine demonstra menos vigor do que deveria e serve apenas como escada para o animal. Talvez pela inexperiência ele passa quase todas as cenas com os lábios abertos e os olhos apertados como se tentasse entender o que está acontecendo na história. Fora isso, ele ainda lembra Ethan Hawke quando era adolescente, o que torna ainda mais forte a sensação de que já vimos aquelas caras antes. Não vai demorar muito para que as dificuldades da família de Albie superem seu apego ao bicho e faça com que a família venda o cavalo para um militar de bom coração (papel que não passa em branco somente pela dedicação habitual de Tom Hiddleston), mas nem adianta se apegar ao bondoso Capitão James Nicholls, logo Joey terá outros donos - entre eles uma dupla de irmãos (Leonard Carow e David Kross), uma menina com ossos de vidro que vive com o avó numa fazenda. Nessa passagem por vários donos, a narrativa perde força, talvez porque todos aparecem por pouco tempo, sem que tenhamos a oportunidade de nos apegar a eles. Neste momento o filme chega em seu ponto morto (algo me diz que o olhar do cavalo sobre esses personagens deve tornar tudo mais interessante, mas no filme a ausência dessa narrativa incomum fez falta). O filme só ganha força depois que Joey promove uma trégua - e Spielberg perde a chance de criar uma cena inesquecível se perdendo em piadinhas que não ajudam muito ao clima do arame farpado. Neste momento já esperamos que Albert e Joey se reencontrem, mas o dá algumas voltas tão desnecessárias que são resolvidas apressadamente. A esse aspecto junta-se o fato da produção bagunçar um bocado os envolvidos na guerra, afinal, todos falam inglês (com sotaques ridículos)! No final das contas, Cavalo de Guerra é até um bom filme, mas menor do que seu diretor esperava. Bela fotografia e edição são prejudicadas pela trilha sonora melosa e uma direção acomodada que perdeu o principal tema do filme: a morte oito milhões de equinos durante a 1ª Guerra Mundial. Ironicamente, no fim das contas (com todo o requinte da produção) salva-se o cavalo. Ele nem precisasse falar mesmo.
Cavalo de Guerra (War Horse/EUA2011) de Steven Spielberg com Jeremy Irvine, Emily Watson, Peter Mullan, Tom Hiddleston, Benedict Cumbertbatch, David Thewlis e David Kross. ☻☻☻
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