Radcliffe: procurando a maturidade.
Com o fim da saga do bruxinho Harry Potter, o ator Daniel Radcliffe está disposto a mostrar que não é ator de um papel só. Enquanto a carreira no teatro vai muito bem (ele protagonizou um dos grandes sucessos da temporada 2011: "Como Vencer na Vida sem Fazer Força") chegou a hora de voltar à telona num papel bem diferente do que o consagrou. A escolha de Radcliffe foi o jovem viúvo protagonista do romance A Mulher de Preto de Susan Hill. Não foram poucos os que reclamaram que o rapaz era jovem demais para o papel, mas quem conferir o filme verá que Radcliffe consegue convencer como um advogado cheio de fantasmas pessoais e uma casa mal assombrada. Produzido pelo lendário estúdio Hammer (que no pós-guerra foi sinônimo de terror elegante e em 2008 retomou suas atividades), o filme investe numa atmosfera gótica que deve agradar os fãs do bruxinho, apesar do tema ser bem mais adulto. Arthur Kipps (Radcliffe) ainda não se recuperou com a morte da esposa no parto de seu primeiro filho, passaram-se alguns anos, mas continua desmotivado a retomar sua rotina. Como uma espécie de punição acaba sendo encaminhado para cuidar da venda de uma casa num vilarejo que costuma ficar isolado durante a maré cheia. Diante da hostilidade da população local, Arthur percebe que existe alguma coisa errada por ali - e o fato de crianças morrerem misteriosamente só aumenta seus arrepios. Quando conhece a tal casa, Arthur começa a ser assombrado por um fantasma, uma mulher vestida de negro que morava na casa e que, por vingança, vitima as crianças da população local. O diretor James Watkins, apesar do pulso meio frouxo, faz um filme à moda antiga, cheio de climas e segredos escondidos que aos poucos se revelam. Ambientado no início do século XX, o protagonista londrino já pode ser considerado um sujeito urbano e cético perante as crendices sobre o fantasma local, mas Daniel Radcliffe confere grande dignidade à resignação de seu personagem diante do desconhecido. É interessante como Radcliffe cresceu como ator, achoque no fundo estava cansado de ser Potter. Existem cenas em que seu olhar já é suficiente para expressar todos os sentimentos que povoam o interior do atormentado Kipps. Sua atuação é, por exemplo, melhor do que a da consagrada Janet McTeer que exagera na pele de uma das habitantes mais esquisitas da cidade. Com todo o cuidado com os figurinos, a fotografia e os efeitos sonoros, A Mulher de Preto bebe no tema dos grandes filmes de terror, onde a mortes são menos interessantes do que o protagonista assombrado que projeta seu passado nos acontecimentos que presencia. O fantasma, em sua vestimenta negra e banhada de ressentimento com a morte de um ente querido, reflete muito das angústias de Arthur Kipps e, por isso mesmo, a morte pode até ser vista como um final feliz e redentor. Se este filme é um prenúncio de como a carreira de Radcliffe será conduzida nós podemos ficar despreocupados.
A Mulher de Preto (Woman In Black/Reino Unido-2011) de James Watkins com Daniel Radcliffe, Ciarán Hinds, Janet McTeer e Cathy Sara. ☻☻☻
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