Cunxin Li: bela história, filme mediano.
Existem histórias que poderiam render filmes magníficos, mas vai entender o que se passa pela cabeça de um diretor para realizá-lo da forma mais burocrática possível. Este é o caso deste filme assinado pelo veterano Bruce Beresford. Hoje seu nome pode ser pouco conhecido, mas este cineasta australiano é o responsável pelo sucesso oscarizado Conduzindo Miss Daisy (1989) e do recente sucesso no Festival de Sundance, Paz, Amor e Muito Mais estrelado por Jane Fonda a ser lançado em setembro por aqui. O Último Dançarino de Mao tinha tudo para se tornar um sucesso, tem uma história edificante inspirada em fatos reais, intrigas políticas, superação, romance, atores corretos, mas o resultado é surpreendentemente morno. Adaptado da autobiografia do dançarino chinês Cunxin Li o filme explora pouco as possibilidades do roteiro, talvez por evitar polêmicas o filme pareça superficial nas problemáticas que aparecem pelo caminho de seu protagonista. O único momento em que a apatia se altera é quando o filme aborda o impasse na embaixada chinesa, onde Li tornou-se refém de uma situação absurda. Cunxin Li (quando adulto vivido pelo carismático Chi Cao, bailarino principal do Birminghan Royal Ballet desde 2002) foi descoberto num pobre vilarejo do interior da China comunista liderada por Mao Tsé Tung. Escolhido para estudar balé aos onze anos, o garoto enfrentou várias dificuldades mas sua determinação fez com que se destacasse e fosse escolhido em 1979 foi selecionado para participar de um intercâmbio cultural, aprimorando seus estudos no Texas. O filme explora pouco o choque cultural de Li com o país em que passa a viver, prefere ressaltar os contornos ameaçadores que os burocratas chineses viam no contato de um socialista com a cultura capitalista. Talvez o diretor considerasse que as cenas que contrastam os dois países já fosse suficiente, mas muita gente vai reclamar um bocado sobre a parcialidade do roteiro que mostra mais uma vez a Terra do Tio Sam como um país de oportunidades, redenção e blábláblá. No entanto, não podemos perder de vista que a história é contada pelo ponto de vista do personagem que percebeu contradições entre as lógicas econômico-sociais que observava. O filme deixa a política de lado para arranhar a amizade de Li com o tutor americano Ben Stevenson (vivido por Bruce Greenwood) e o relacionamento com a namorada - que causa um problema diplomático quando decidem se casar. Existe por trás de todo filme um material riquíssimo para discutir a forma como a arte era valorizada no regime maoísta, a questão da disciplina e da liberdade que a arte inspira (se de um lado chega a ser obrigada a ostentar armas num palco, por outro lado um chinês pode encarnar um espanhol com grande desenvoltura num espetáculo) constrasta com o regime que se torna literalmente uma prisão para os cidadãos. Essa contradição de oferecer recursos em troca de inibir qualquer comportamento dissonante poderia ser o trunfo do filme em seus momentos mais cruciais, mas Beresford opta por abordar apenas um indivíduo quando, na verdade, o mais interessante é toda a estrutura que está em volta dele. Ao fazer tudo girar somente em torno do umbigo de Cunxin Li o filme perde muito de sua força, de forma que nem as vezes que aborda questões de preconceito ou reencontro do personagem com seus pais chega a empolgar. Tudo parece exageradamente certinho, ensaiadinho demais. Nem adianta apelar para flashbacks e pesadelos durante a narrativa, o resultado é apenas trivial. Se existe realmente um aspecto a se destacar no filme é o fortmato datado que a produção possui, da fotografia, passando pelos figurinos e a atmosfera retrô, o filme fala de uma época passada como se realmente fosse pertencente à ela. No entanto, O Último Dançarino de Mao é apenas a sombra do grande filme que poderia ter sido.
O Último Dançarino de Mao (Mao's Last Dancer/Austrália-2009) de Bruce Beresford com Chi Cao, Amanda Schull, Bruce Greenwood e Kyle MacLachlan. ☻☻
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