domingo, 17 de junho de 2012

CATÁLOGO: Gilbert Grape

Depp e DiCaprio: muito antes de Jack Sparrow e Titanic.

Bons tempos quando o nome do sueco Lasse Hallström era sinônimo de filmes inesquecíveis. Embora seus filme mais recentes tenham encontrado algum sucesso (Sempre ao Seu Lado/2009 e Querido John/2010), eles estão bem longe do brilhantismo de Minha vida de Cachorro (1985) e deste Gilbert Grape. Costumo recomendar este aqui para todo mundo que não considera Leonardo DiCaprio um bom ator, sei que depois de Titanic (1997) a carreira do moço enfrentou momentos difíceis, mas aos poucos ele parece ter reconquistado o respeito dos tempos em que era um dos jovens mais promissores de Hollywood. Se você é um desses que nunca entendeu o motivo de todo mundo confiar tanto no potencial do rapaz, está na hora de você assistir sua impressionante atuação como o autista Arnie, irmão do personagem do título. O ator tinha 19 anos e conseguiu atribuir ao personagem um carisma irresistível com seus gestos nervosos e uma ingenuidade infantil que lhe rendeu a merecida indicação ao Oscar de coadjuvante.  Hallström sempre curtiu trabalhar com a poesia do cotidiano em seus filmes e o resultado alcançado neste filme é notável. O título se refere ao jovem Gilbert (Johny Depp, num papel que está há léguas dos tipos que enchem sua conta bancária hoje em dia), um rapaz que trabalha num mercadinho e que carrega a família nas costas depois que seu pai lhe deixou toda a responsabilidade de ser o homem da casa. Gilbert tem uma mãe (Darlene Cates) que de tão gorda nem consegue sair de casa, ainda tem duas irmãs (a mais nova é uma peste) e um irmão caçula que é autista (Leonardo DiCaprio).  Os dilemas de Gilbert são os elementos que movem a trama, seja o  fato do irmão se pendurar num reservatório de água sempre que possível, de ter o caso com uma mulher casada e mais velha (Mary Steensburgeen) ou um novo mercado comprometer seu trabalho são fatos comuns que dão ao personagem a impressão de que está sempre preso no mesmo dia, numa rotina de uma cidade pequena onde nada acontece. As coisas mudam quando Becky (Juliette Lewis, no seu papel mais normal) chega à cidade. Com seu jeito diferente, ela o faz pensar nos rumos que Gilbert deu até ent]ap aos rumos de sua vida. É marcante a cena em que ela pergunta o que Gilbert deseja e ele enumera coisas destinadas a sua família: "E para você, não quer nada?" - ela pergunta. Embora inofensivo e com aquele ritmo simpático dos filmes do início de carreira de Hallström, o filme toca em questões delicadas, especialmente referentes aquele momento em que percebemos que temos um caminho a seguir independente do que a família espera de nós (e apesar de toda a tristeza do desfecho de sua mãe, é toda a simbologia presente naquele lar que importa ao final). Entre pequenas aventuras e tragédias do cotidiano, o filme desenha seus personagens sem pressa até o inevitável momento que nos despedimos deles. Além de todos os cuidados técnicos sempre exibidos pelo diretor, existe um carinho pela forma como os personagens são apresentados que merece ser reconhecida mesmo nos momentos mais excêntricos. Baseado no livro de Peter Hedges (que muitos consideram ser de auto-ajuda),  o filme é uma dessas pequenas pérolas que merecem ser redescobertas.

Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador (What's eating Gilbert Grape/ EUA-1993) de Lasse Hallström com Johny Depp, Leonardo DiCaprio, Juliette Lewis, Darlene Cates, Mary Steenburgen, Crispin Glover e John C. Reilly. ☻☻☻

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