Hirsch e Matthew: A hora da virada.
É sempre interessante quando um ator procura dar uma virada em sua carreira. Ano passado foi a vez de Matthew McConaghey fazer isso. Nos últimos anos o ator preferiu se dedicar às comédias românticas e encher o bolso de dinheiro, de vez em quando ele até fugia do gênero favorito da mulherada, mas sempre retornava ao porto seguro para sua carreira. Talvez cansado de ser sempre lembrado pelo porte atlético, o ator texano (prestes a completar 44 anos) viu que estava na hora de honrar os elogios de sua promissora atuação em Tempo de Matar (1996). Naquela época ele chegou a ser comparado com Marlon Brando e Paul Newman, mas depois ele nunca mais se preocupou em explorar o máximo de seu potencial. Com quatro filmes elogiados no ano passado (Paperboy, Magic Mike, Killer Joe e Mud - que foi exibido em Cannes2012 e esse ano teve sua distribuição ampliada nos EUA), o Oscar pode tê-lo ignorado, mas o Independent Spirit lhe garantiu duas indicações valiosas em sua última edição: uma de ator coadjuvante por sua atuação como o stripper veterano de Magic Mike (a qual lhe valeu o prêmio) e ator por esse Killer Joe. Assinado pelo veterano William Friedkin, o filme não é para todos os gostos, mas deve agradar aqueles que curtem violência estilizada e um roteiro que não tem medo de ser estranho. A trama gira em torno de uma família disfuncional, os Smith. Tudo já começa com Chris (Emile Hirsch) chegando à casa do pai e sendo surpreendido por sua madrasta desinibida, Sharla (Gina Gershon, uma beldade que envelheceu muito mal). O rapaz tem um péssimo relacionamento com a mãe e as discussões com o pai (Thomas Haden Church) demonstram que as coisas não são muito melhores com o patriarca. Um tabefe aqui, um xingamento ali e o único ponto afetuoso de Chris é a irmã doidinha Dollie (Juno Temple). As coisas não andam fáceis para os Smith, mas Chris tem uma ideia para melhorar, pelo menos, a situação econômica da família. O rapaz acaba de descobrir que é o beneficiário do seguro de vida da mãe e, para receber 50 mil dólares, ele cogita contratar um matador profissional para fazer o serviço. É nesse momento que entre em cena Joe Cooper (Matthew McConaughey), um ex-policial misterioso que ganha a vida fazendo bicos como assassino. Joe é um sujeito estranho e, como a família não tem dinheiro para lhe dar um adiantamento para o serviço, ele pede a doce Dollie como garantia. Só isso já renderia uma história interessate, mas Chris tem problemas com traficantes e existe um jogo de traição na família que papai Smith nem suspeita. Acho bacana que Friedkin filme como se ainda estivesse nos anos 1970 (período em que lançou seus filmes mais famosos, Operação França/1971 e O Exorcista/1973), com o mesmo destemor com que fez Parceiros da Noite (1980) e ousando em flertar com o perturbador como no seu longa anterior, o subestimado Possuídos (2006). Friedkin filma longos planos e deixa a câmera parada como se fossemos espiões perante aquele pequeno universo perto de explodir. Trata os diálogos como se fizessem parte de um mosaico de brinquedo e não se leva a sério nem quando Chris é surrado e apresenta os hematomas mais mal feitos do cinema (que parece ainda mais grotesco quando recepcionado por um Joe nu e de pele límpida). Baseado numa peça de Tacy Letts, o filme se deslumbra com a influência do ambíguo Joe no seio daquela família, ao ponto de, em alguns momentos, parecer uma versão cômica de O Invasor/2001 de Beto Brant - em outros é um primo ainda mais cru dos irmãos Coen - especialmente quando os planos de Chris saem pela culatra. Certo é que Killer Joe não tem medo de ter vida própria (ainda que beirando o absurdo). A cena onde a família lava a roupa suja pela última vez é bastante visceral, até que surge aquela cena surreal com frango frito e um tiroteio descabido antes do anúncio de que aquela zona deve se perpetuar por muito tempo. Não é um filme brilhante, mas tem uma aura cult que deve agradar um público bastante específico.
Killer Joe (EUA/2012) de William Friedkin com Matthew McConaghey, Emile Hirsch, Thomas Haden Church, Gina Gershon e Juno Temple.
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