Nighy e Weisz: suspense eficiente e ótimo elenco.
Trabalhando como ator desde a década de 1970, é curioso imaginar que somente depois de completar cinquenta anos que Bill Nighy se tornou um rosto conhecido do grande público. Quem curte comédias inglesas já havia reparado naquele senhor esguio quando interpretou um roqueiro que rejeita se aposentar em Ainda Muito Loucos (1998). A coisa funcionou tão bem que ele praticamente repetiu o personagem, sendo a melhor coisa no aguado Simplesmente Amor (2003). Desde então, os trabalhos no cinema não pararam de aparecer. Nighy vive a melhor fase de sua carreira e já provou inúmeras vezes que pode fazer a diferença em filmes como Notas sobre um Escândalo (2006) e O Exótico Hotel Marigold (2011), embora a maioria dos seus papéis tenham relação com humor, ele dá conta de tipos mais dramáticos como esse vivido neste competente telefilme produzido pela BBC. Escrito e dirigido por David Hare (indicado ao Oscar pelos roteiros de As Horas/2002 e O Leitor/2008), A Oitava Página me lembrou o clima de O Espião que Sabia Demais (2011). As semelhanças estão no fato de que a vida do espião é mostrada com menos cenas de ação e mais elementos conspiratórios que se revelam aos poucos enquanto vida profissional e pessoal se misturam num labirinto de suspeitas. Nighy interpreta Johny Worricker, melhor amigo e confidente do chefe da inteligência britânica, Benedict Baron (Michael Gambon). No entanto, quando Johny é apresentado ao público ele é apenas um homem que chega em casa e se depara com uma vizinha (Rachel Weisz) em apuros, já que ela não sabe como se livrar do namorico que arrumou naquela noite. Somente depois, percebemos que aquele encontro quase acidental no corredor, pode fazer parte de algo maior, já que a bela vizinha tem envolvimentos com manifestantes sírios e investigações israelenses. Esse é apenas um detalhe de uma trama que gira em torno da sempre controversa ligação entre Inglaterra e EUA na "guerra contra o terror". Além da simpatia que nutre pela vizinha, Worricker ainda terá que lidar com uma superior que simpatiza pouco com ele (a sempre bem vinda Judy Davis), os conflitos com a filha (Felicity Jones) e com a morte de uma figura importante na Inteligência Britânica - e que colocará em risco a integridade dessa instituição. É interessante como o texto de Hare mistura os elementos de forma que nossa mente funciona como a do protagonista: explorando as possibilidades de que uma conspiração se arma e todos podem estar envolvidos. Sem reviravoltas malucas ou exageros, A Oitava Página constrói um suspense eficiente com verniz dramático bem dosado. Outra vantagem do filme é que não tenta confundir o expectador mais do que deveria. A história é contada de forma linear, simples e eficaz amparada pelo talentoso elenco, capitaneado pela fleuma de Bill Nighy - que foi indicado ao Globo de Ouro pelo papel. Ainda que modesto, A Oitava Página poderia ser um sucesso nos cinemas e merece ser descoberto nas locadoras.
A Oitava Página (Page Eight/Reino Unido-2011) de David Hare com Bill Nighy, Rachel Weisz, Judy Davis, Michael Gambon, Felicity Jones, Tom Hughes, Ralph Fiennes, Marthe Keller e Ewen Bremner. ☻☻☻
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