Pettyfer, Matthew e Tatum: as relações projetivas.
Steve Soderbergh lançou seu filme mais lucrativo no ano passado. O mais interessante é que o filme faz parte das experiências do diretor em explorar histórias relacionadas à trajetória de seus atores. Foi assim com Confissões de Uma Garota de Programa (2009), com o sonolento À Toda Prova (2011) e agora com Magic Mike estrelado por Channing Tatum que, já declarou, ter ganhado a vida como stripper antes da fama. Tatum já havia trabalhado com o diretor em À Toda Prova - no qual apresentou, em um papel pequeno, a melhor atuação de sua carreira. Como Magic Mike, sua atuação não chega a ser tão boa, mas as fãs não devem reclamar. O filme começa a partir do encontro de Mike (Tatum) com Adam (Alex Pettyfer), um jovem rapaz que não sabe muito bem que rumo seguir profissionalmente. Mike acaba convidando o mocinho para trabalhar na boate onde ele é um dos strippers mais populares e, quase que por acaso, Adam salva a noite. Embora tenha que aprender um bocado de coisas com a trupe de novos amigos, Adam mostra-se bastante interessado com os prazeres da carreira que se anuncia. O roteiro do estreante Reid Carolin não se preocupa em aprofundar personagens, mas investe no humor para agradar a gregos em troianos. Sua preocupação em fazer um texto agradável para o grande público não aparece somente nesse quesito, mas também pela forma rápida com que insere as drogas na história e a visão ingênua de não explorar o homossexualismo e a prostituição nesse universo. Com o nível de provocação lá em baixo, o mais incrível é como o diretor Soderbergh faz milagres com o que tem em mãos. Além de injetar uma atmosfera pop documental ao filme, ele ainda consegue criar números interessantes (o melhor é o de 4 de julho, onde um jogo de luzes faz Matthew McConaghey parecer o Tio Sam) que fogem apenas do caráter rebolativo e de glúteos de fora. Mas debaixo da aparência de que o filme faz piada de si mesmo, mais do que um romance açucarado (de Mike com a irmã certinha de Adam ou com uma psicóloga bissexual), o filme torna-se mais interessante quando percebemos a relação projetiva que se instala entre Mike, Adam e o veterano Dallas, responsável pela gerência do show. Dallas é um personagem que aparece pouco, mas que consegue ser bastante revelador sobre o universo apresentado no filme. Matthew McConaghey rouba a cena como o sujeito que vê o desejo da plateia como fonte de ambições e lucros cada vez maiores (não por acaso, Matthew foi eleito o melhor ator coadjuvante no Independent Spirit pelo papel). Curioso é que Dallas não tem uma história, uma família e por isso mesmo, encarna o que Mike tem medo de se tornar quando a idade avançar mais um pouco: ser apenas aquilo que se vê no show. Enquanto isso, a juventude de Adam reflete o quão mais próximo de Dallas ele está desde que começou no ramo (afinal, todos os seus projetos fora daquele universo nunca se concretizam). Embora o roteiro não explore todas as possibilidades da relação desse trio, existe uma vontade de que o filme não seja só um bando de homens musculosos tirando a roupa. Ajudaria se explorasse melhor os sujeitos que se escondem naquele palco, mas aí, a produção de 7 milhões de dólares poderia se tornar séria demais e não render mais de quinze vezes esse valor só nas bilheterias americanas (o que em tempos de crise é ainda mais valioso).
Magic Mike (EUA-2012) de Steve Soderbergh com Channing Tatum, Alex Pettyfer, Matthew McConaghey, Cody Horn, Olivia Munn, Joe Manganiello e Matthew Bomer. ☻☻☻
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