José e Rosa: a raiva vive no sótão.
Considero bastante nobre quando um diretor consagrado investe em pequenas produções de cineastas desconhecidos. Se a produção é de um país onde a cinematografia tem problemas com a distribuição, a ação se torna mais nobre ainda! Guillermo del Toro já recebia elogios por seus filmes em língua espanhola (como o celebrado A Espinha do Diabo/2001) e investidas no cinema de ação (Blade II em 2002 / Hellboy em 2004), mas nada que se comparasse à repercussão do magnífico O Labirinto do Fauno (2006). No entanto, o diretor sempre deixou claro seu gosto em produzir filmes menores com toques de suspense. Por isso o filme Raiva do equatoriano Sebastián Cordero lhe cai como uma luva. Baseado na obra de Sergio Brizzio (mesmo autor do conto que deu origem ao argentino XXY de 2007), o filme tem toques de romance e suspense ao contar a história do casal de colombianos José Maria (Gustavo Sánchez Parra) e Rosa (Martina Garcia) que vivem na Espanha. Ele ganha a vida como pedreiro, ela é doméstica no casarão de um casal de idosos, os Torres. Apesar da sintonia, torna-se evidente o ciúme que José tem da bela namorada, bastando um comentário masculino sobre ela para que ele se torne violento. É num desses momentos de cabeça quente que ele acaba cometendo um crime. Sem ter para onde ir, ele acaba se refugiando na casa onde sua namorada trabalha - mas sem que ela saiba que ele está lá. Essa vida em segredo de José Maria é o que garante o suspense do filme, já que ele precisa sempre se esconder dos outros moradores da casa enquanto está no limite para revelar-se à amada. Pode até parecer um absurdo que os Torres não percebam que tem um desconhecido morando acima de suas cabeças, mas como uma parte da casa está abandonada e precisando de reformas, a plateia até que se convence. É interessante também a forma como José se comunica com Rosa por outro telefone da casa, sempre com discursos sobre saudade e se desculpando pela bobagem que cometeu. Embora a tensão brote do personagem se esconder dos demais, Cordero prepara aos poucos o momento em que a permanência de seu protagonistas chegará ao limite, seja pelos assédios do filho dos patrões sobre a namorada, ou quando a família pretende dedetizar a casa. O filme consegue gerar momentos de horror e angústia com poucos personagens e um único cenário, além de possuir um convincente verniz romântico. Porém, o diretor derrapa perto do final. Raiva poderia ser um filme brilhante se não começasse a investir no mais rasteiro melodrama em seu arremate, tanto que a cena final beira o risível. Nesse momento, temos que lembrar das boas atuações e da eficiência narrativa apresentada até ali para sanar o gosto de desapontamento. Vale ver o filme enquanto aguardamos que o primeiro filme hollywoodiano do diretor, Europa Report (estrelado por Sharlto Copley e Michael Nyqvist) estreou em junho nos EUA e recebeu elogio dos apreciadores de ficção científica.
Raiva (Rabia / Colômbia-México-Espanha/2009) de Sebastián Cordero com Martina García, Gustavo Sánchez Parra, Tania de La Cruz, Javier Toloza e Àlez Brendemühl. ☻☻☻
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