Peter, Laura, Andie e Spader: aclamada estreia de Soderbergh.
Esse é o tipo de filme que você sempre escuta falar, mas que não é muito fácil de encontrar. A estreia de Steve Soderbergh faturou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e jogou as expectativas de sua carreira para o patamar mais alto - algo que ele só conseguiu se recuperar no final da década de 1990. Lembro que na época todos os amigos de minha irmã mais velha só sabiam falar do filme, fazendo minha expectativa crescer cada vez mais. Só recentemente consegui ver o filme e me surpreendeu como parece próximo da versão de Mike Nichols para a filmagem da peça Closer de Patrick Marber, que se tornou filme em 2004. Em comum, nos dois, fala-se muito sobre sexo, mas não existe uma cena de sexo durante o filme, apenas sugestões. É uma saída elegante para um filme de diálogos sinceros e que explora um jogo de sedução diferente entre os seu "quadrângulo" amoroso. Os personagens são baseados em arquétipos bem delineados e facilmente identificáveis pelo elenco: Ann Bishop (Andie MacDowell) é a típica esposa certinha, tão certinha que faz terapia para lidar com a forma fria com que lida com a própria sexualidade. As roupinhas sem graça e os cabelos transpiram uma aparência assexuada que nem ela parece notar. Ela é casada com John (Peter Gallagher), advogado com pinta de galã que tem um caso com a cunhada. A tal cunhada chamada Cynthia (Laura San Giacomo) trabalha num bar enquanto a carreira de artista plástica não decola. Cynthia é tão desinibida quanto deixa evidente que existe uma certa competição com a irmã sempre admirada pelo seu comportamento correto. A vida dos três poderia seguir assim para sempre se não aparecesse um visitante, o excêntrico Graham Dalton (James Spader, premiado em Cannes pelo papel). Dalton foi amigo de juventude de John, mas agora ele aparece completamente diferente, com fala pausada e com valores bastante diferentes do casal de amigos. É visível que existe uma atração sutil entre Ann e o visitante - e ela se torna ainda maior quando Dalton diz-se impotente. Ann deixa claro sua atração por Dalton quando suas roupas se tornam mais sexys, além da resitência de apresentá-lo à irmã. Quando o vínculo entre os dois está prestes a se fortalecer ela descobre um estranho hábito dele: gravar mulheres confessando aspectos da sexualidade. É esse hobby de Dalton que irá mudar a vida dos personagens de forma definitiva. É interessante como Soderbergh usa a câmera do personagem para explorar as entranhas dos seus personagens. Diante daquela lente as personagens expõem não apenas suas vivências como passam a questioná-las - e isso torna-se mais excitante para Graham do que uma relação sexual (talvez por perceber que ali está um nível maior de intimidade do que conseguira em qualquer transa). Apesar da temática quente, Steve Soderbergh opta por um acompanhamento distante dos personagens, de forma que são apresentados frigidamente para a plateia até o desfecho. O estilo do diretor pode ser considerado como pretensioso por alguns, mas essa pose faz parte da aura que tornou o filme num objeto de culto e um marco do cinema independente americano.
Sexo, Mentiras e Videotape (Sex, Lies and Videotape/EUA-1989) de Steven Soderbergh com James Spader, Andier MacDowell, Peter Gallagher e Laura San Giacomo. ☻☻☻☻
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