Claudia e Fillippo: faíscas dentro e fora da tela.
É sempre interessante quando um escritor tem a chance de transformar seu livro em filme. Cristina Comencini trabalha com cinema desde 1989, em 1994 lançou seu primeiro romance (As Páginas Desaparecidas) e mais de vinte anos depois lançou esse Quando Anoitece, que a mesma adaptou para o cinema em 2011. O filme causou grande controvérsia quando foi exibido no Festival de Veneza, chegando a gerar risos involuntários na plateia - o que aborreceu bastante a diretora que defendeu sua história de forma bastante enfática. Todo mundo sabe que a transposição de uma mídia para outra é bastante complicada e traduzir elementos escritos para imagens pode resvalar no exagero. Como não tenho formação para crítico de cinema, eu achei que o filme tem dois problemas: o primeiro é que a história demora muito para engrenar e a segunda é que a rendição dos personagens ao que sentem um pelo outro é um tanto apressada. No entanto, as atuações de Claudia Pandolfi e Fillippo Timi ajuda a manter a atenção da plateia. Ela é Marina, uma mulher casada que vai passar uma temporada perto das montanhas para que seu filho pequeno possa ficar curado de uma doença respiratória. Ela aluga o segundo andar da casa do misterioso Manfred (Timi), um sujeito sisudo e que trabalha nas montanhas. O choro do filho de Marina é constante e afeta o sono dos personagens, não demora muito para que ela esteja exausta e, num momento de desespero, tenha uma atitude que desperta suspeitas em Manfred. Mais do que a hesitação dos personagens se conhecerem, é evidente que existe uma crescente tensão sexual naquela casa, afinal os dois estão isolados numa casa e demonstram-se bastante... carentes - mas o roteiro prefere colocá-los brigando até a metade da projeção. Existe algo folhetinesco quando a história dá espaço para os comentários sobre a infância e adolescência de Manfred numa casa habitada somente por homens,mas pior que isso são as indagações sobre a maternidade que nunca se aprofundam como deveriam, soando bem precárias. No entanto, o que salva o filme é a atmosfera cheia de suspense criada pela diretora e a sólida construção de Fillippo Timi de um personagem que seduz a mulherada por sua estranheza. A forma como a narrativa sufoca o romance que demora para se concretizar rendeu ao filme uma indicação ao Leão de Ouro no Festival de Veneza, mas não foram poucos que criticaram a produção. Quando Anoitece deveria ter se concentrado no sentimento que nasce entre os protagonistas ao invés de buscar reflexões sobre Complexo de Édipo, Depressão pós parto e outras coisas maternais. Prova disso é o último ato, livre desses empecilhos, o final é tenso, sensual, romântico e extremamente bem filmado - apesar de ocorrer após uma grande lacuna temporal. Quando Fillippo e Claudia estão em cena, podemos enxergar as faíscas - faíscas que acabaram rendendo publicidade a mais para o filme, já que os dois engataram um romance badalado pela mídia europeia.
Quando Anoitece (Quando la Notte/Itália-2011) de Cristina Comencini com Fillippo Timi, Claudia Pandolfi, Thomas Tabacchi, Denis Fasolo e Franco Trevisi. ☻☻☻
Quando Anoitece (Quando la Notte/Itália-2011) de Cristina Comencini com Fillippo Timi, Claudia Pandolfi, Thomas Tabacchi, Denis Fasolo e Franco Trevisi. ☻☻☻
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