Bartel, Nissen e Chasseriaud: atores de futuro.
Seth (Martin Nissen) e Zak (Zacharie Chasseriaud), são dois irmãos com, respectivamente, 15 e 13 anos que vivem na casa deixada pelo avô até o dia em que a mãe virá buscá-los. A espera fica ainda pior quando o dinheiro deixado por ela acabou e eles precisam se virar para não morrer de fome. Enquanto esperam o retorno da mãe, os dois irmãos vivem pequenas aventuras, seja dirigindo o carro velho do avô falecido ou roubando comida da dispensa do vizinho. Enquanto fazem companhia um para o outro conhecem Danny (Paul Bartel), outro jovem morador das redondezas que tem sérios problemas com o irmão mais velho que o espanca constantemente. Junto os três viverão algumas desventuras neste eficiente longa metragem dirigido por Bouli Lanners. Lanners já atuou em vários filmes franceses (Eterno Amor/2004, Des Vents Contraires/2011, Ferrugem e Osso/2012), mas neste seu quinto trabalho demonstra grande sensibilidade ao conduzir uma história cativante sobre três personagens que estão deixando a infância para trás. Quando parece que estamos diante de mais um filme no melhor estilo Conta Comigo (1986), o diretor torna a trama mais sombria ao mostrar o envolvimento dos três moleques com um traficante local - o que acaba os deixando ainda mais perdidos no mundo. Pode-se fazer várias leituras sobre o que a trama apresenta, que eles não possuem referencial familiar (os pais vivem ausentes e não sabemos exatamente o motivo) e depois que ficam sem teto a coisa complica ainda mais com o sentimento de invencibilidade tipicamente juvenil acoplado à violência sempre à espreita. Lanners insere o espectador como uma espécie de voyeur na trajetória do trio (e a forma como o diretor posiciona a câmera em várias cenas ressalta isso) e sabe que o carisma de seus atores segura nossa atenção diante do que vemos. A paisagem paradisíaca das locações, assim como a inocências dos mocinhos contrasta com os atos de contravenção que cometem pelo caminho, mas o melodrama nunca se sobrepõe ao tom de aventura de cada episódio da trama. O que poderia ser uma crônica sobre rito de passagem, acaba recebendo traços de fábula sobre o adolescência. Afinal, tudo parece acontecer num universo paralelo, onde os meninos vivem à deriva sem a interferência de adultos - e isso fica ainda mais marcante quando o telefone celular toca pela última vez. Talvez o o diretor queira expressar é que, em determinado ponto de nossas vidas deixamos de criar expectativas para que os outros resolvam nossos problemas e, entre erros e acertos, crescemos sozinhos. Seth, Zak e Danny falam um pouco sobre a adolescência de cada um de nós, das pequenas aventuras do cotidiano, dos problemas que desviamos pelo caminho, daquela sensação de abandono que sentimos quando nossos pais deixam de ser os heróis que imaginamos na infância - o que se cruza com a perda da inocência e a preocupação com quem está ao nosso redor. O filme me lembrou ainda O Garoto de Bicicleta (2011) dos irmãos Dardenne - que, curiosamente, foi exibido em Cannes no mesmo ano -, mas o ritmo deste aqui é mais otimista e envolvente pela comunicação direta que pode estabelecer com os mais jovens.
Os Gigantes (Les Giants/Bélgica-2011) de Bouli Lanners com Martin Nissen, Zacharie Chasseriaud, Paul Bartel e Marthe Keller. ☻☻☻☻
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