domingo, 4 de setembro de 2016

CICLO VERDE E AMARELO: Boi Neon

Cazarré: entre o ideal e o real. 

Premiado no Festival de Veneza, no Festival de Havana e no Festival do Rio o filme Boi Neon de Gabriel Mascaro estreou sob grande expectativa do público - talvez não apenas pelos prêmios que acumulou, mas também pela presença de Juliano Cazarré, ator gaúcho que se tornou um dos artistas mais cobiçados pelo cinema brasileiro e que ficou bastante popular por suas participações em telenovelas. No entanto, é no cinema que Cazarré costuma viver seus personagens mais complexos e diferentes, aqui por exemplo ele se torna o centro da narrativa, marcada pelo contraste entre a realidade e as ambições. O ator vive Iremar, um rapaz que trabalha em rodeios no norte do Brasil, cuidando dos bois ao lado de Mário (Josinaldo Alves), Galega (Maeve Jinkings, outra cobiçada intérprete no cinema atual), mãe da menina Cacá (Alyne Santana). Para além do cenário árduo e do trato com os animais, Iremar tem o desejo de se tornar estilista - e se satisfaz construindo figurinos para uma apresentação onde Galega deixa de ser a mulher sem glamour e se torna uma espécie de híbrido movido à musica eletrônica. São dessas janelas entre o que vivem e o que podem se tornar que o filme de Mascaro ganha força, no entanto, o filme repete alguns cacoetes estilísticos que se tornaram comuns entre os cineastas tupiniquins. Os planos são quase sempre abertos, existe o apelo de cenas que parecem de puro voyeurismo (incluindo uma com um cavalo puro-sangue) que conferem ao filme um erotismo diferente e que pode soar incômodo para a maioria do público, além disso, o filme parece terminar em sua metade, logo depois que Iremar vai ao "local de seus sonhos" e revela sua orientação sexual (e sinceramente eu nem me preocupava com isso). Com uma hora e quarenta minutos de projeção, sobram cenas exaustivas de (maus?) tratos com bois e cenas longas (muitas arrastadas), Boi Neon revela sua ideia gradativamente até a última cena, mas ainda assim, deixa a impressão que apenas a apresentou mas não a explorou em todas as suas possibilidades. Talvez a ideia do diretor seja exatamente essa, mostrar que as expectativas de seus personagens ainda não encontram espaço para se revelarem no cotidiano que vivenciam, assim, talvez a minha insatisfação seja a mesma dos personagens. Falando em insatisfação, Mascaro tornou-se notícia ao discordar da legitimidade da escolha do filme que irá disputar uma vaga no Oscar de filme estrangeiro do ano que vem. Por conta da pendenga com um jornalista que criticou levianamente um dos filmes que aspiram à indicação, Mascaro retirou Boi Neon da competição e sugeriu que outros diretores fizessem o mesmo. 

Boi Neon (Brasil/2015) de Gabriel Mascaro com Juliano Cazarré, Maeve Jinkins, Vinícius Oliveira e Alyne Santana. ☻☻

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