segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Na Tela: Mãe só há Uma

Naomi: Pirre ou Felipe?

Acompanho o trabalho de Anna Muylaert desde o curta A Origem dos Bebês Segundo Kiki Cavalcanti (1995) e assisti sua estreia em longa, Durval Discos (2002) assim que ele foi lançado. No cinema de Anna sempre se fala de coisas sérias com grande naturalidade e leveza, essa talvez seja a grande marca de uma cinematografia e que chamou atenção de um público mais amplo quando Que Horas Ela Volta? se tornou o filme brasileiro mais querido do ano passado. O filme protagonizado por Regina Casé continua em nosso imaginário enquanto estreou nos cinemas o novo filme de Anna, Mãe Só há Uma. A trama foi inspirada na história real do menino Pedrinho, que chocou o Brasil no ano de 1986, quando descobriram que ele havia sido roubado na maternidade. Deste ponto de partida, conhecemos a história de Pierre (Naomi Nero, sobrinho de Alexandre Nero), um jovem que toca numa banda, usa maquiagem, pinta as unhas, tem namorada e tira fotos sugestivas com o celular diante do espelho. O roteiro não se preocupa em dizer se Pierre é gay ou heterossexual, não se prendendo a rótulos, ganha pontos por criar um personagem complexo que ainda está diante da construção da própria identidade. Eis que no meio dessa construção, o rapaz descobre que foi roubado quando bebê e a mulher que sempre pensou ser sua mãe é presa. Enquanto ela enfrenta problemas com a justiça, ele passa a conviver com seus pais biológicos e as questões de gênero sobre o personagem começam a incomodar os novos pais. No entanto, todo amor, carinho e conforto (afinal, a situação econômica da nova família é melhor do que a anterior), não são suficientes para fazer Pierre sentir-se menos deslocado, afinal, agora ele tem plena consciência de que foi roubado  - e não vai querer ser levado de si mesmo. Anna Muylaert estabelece uma tensão crescente durante todo o filme, especialmente entre Pierre (agora, Felipe) com o pai (Matheus Nachtergaele) que não entende sua preferência por usar vestidos. Uma ideia bem sacada foi colocar Dani Nefussi para viver as duas mães de Pierre, já que a atriz constrói duas personagens completamente diferentes em cena , saindo-se bem como a mãe em conflito que quer seu filho realmente de volta (e não apenas de corpo presente). No entanto, o filme termina de forma abrupta, pouco depois do protagonista explodir suas angústias. Esperava-se que aquele fosse um ponto de partida para o último ato do filme, mas ele simplesmente não existe, deixando uma sensação de que não fomos capazes de acompanhar as intenções da diretora ao sobrepor duas histórias tão interessantes - ou será que houve insegurança no aprofundamento dos temas que o filme toca? 

Mãe Só Há Uma (Brasil/2016) de Anna Muylaert, Naomi Nero, Dani Nefussi, Matheus Nachtergaele e Luciana Paes. ☻☻

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