O grupo de Vinterberg: dez personagens e poucas cenas memoráveis.
Expectativa é uma verdadeira praga para a apreciação de um filme, veja por exemplo o que senti ao ver A Comunidade, novo filme do dinamarquês Thomas Vinterberg. Vale lembrar que O cara foi o jovem cineasta mais falado de 1998 quando lançou Festa de Família junto ao movimento Dogma95. Depois de passar anos sem chamar muita atenção de público e crítica exibiu o arrepiante A Caça (2012) no Festival de Cannes e saiu de lá com o prêmio de melhor ator para Mads Mikkelsen além do prêmio ecumênico nas mãos. Uma indicação ao Oscar de Filme Estrangeiro depois e lá estava ele adaptando o romântico Longe deste Insensato Mundo (2015) - que não recebeu a atenção merecida. Em 2015 Vinterberg voltou para sua terra natal e realizou A Comunidade, filme sobre um casal que resolve criar o que o título sugere num casarão da família em meio a década de 1970. De início imaginei que o roteiro iria explorar a relação de todas aquelas pessoas vivendo debaixo do mesmo teto, com suas ambições, ideais, conflitos e amores. Não é bem assim. Vinterberg concentra-se especificamente no casal que resolve acolher o grupo de pessoas em sua casa enquanto percebem o relacionamento desmoronar ao longo do tempo. Erik (Ulrich Thomsen) e Anna (Trine Dyrholm) são maduros e possuem um bom relacionamento dentro da vida confortável que levam ao lado da filha, a introspectiva Freja (Martha Sofie WallstrØm Hansen), portanto resolvem criar a tal comunidade sem segundas intenções ou malícia. A aceitação dos membros são feitas através de entrevistas seguidas de votações dos membros mais antigos e tudo corre dentro dos padrões de conduta mais amigáveis - com um levíssimo toque libertário dos anos 1970. O problema maior está no momento em que você percebe que os personagens que orbitam em torno do casal Erik e Anna estão ali apenas para constar, sendo meros espectadores da falência do casamento que existia na casa - e a história investe no caso de Erik com uma mulher mais nova e as implicações que surgem quando ele a convida a participar da comunidade. Neste ponto imagina-se que crescerá o conflito do homem que cedeu a casa para o grupo, mas... melhor eu parar por aqui. A Comunidade parte de uma ideia cheia de possibilidades, mas é extremamente tímido quando os conflitos precisam explodir. Um piti aqui, um grito ali e tudo é contornado sem muita profundidade contando com três ou quatro cenas interessantes... o que é pouco para um diretor competente que tinha em mãos dez personagens para desenvolver enquanto conviviam numa mesma casa. Ou será que sua ideia é que suas individualidades se perderam ali dentro? Se for essa a ideia, o desenvolvimento foi pior do que eu pensava (já que em determinado Erik força o grupo a tomar decisões que são difíceis para ele e...). Embora Thomsen e Trine forneçam fôlego ao casal protagonista, o roteiro parece nunca extrair tudo o que podem oferecer dentro de um contexto humano tão rico.
A Comunidade (Kollektivet/Dinamarca-Suécia-Noruega/2016) de Thomas Vinterberg com Ulrich Thomsen, Tryne Dyrholm, Helene Reingard Neumann, Fares Fares, Mads Reuther, Julie Agnete Vang e Adam Fischer. ☻☻
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