Farrell e Jessica: a pressão sobre o par ideal.
Em Dente Canino o diretor Yorgos Lanthimos já demonstrava ter um senso de humor obscuro, bastante cruel com os seus personagens. Da mesma forma, já demonstrava interesse em criar mundos paralelos ao nosso. Com O Lagosta o diretor intensifica o humor, mas com isso, multiplica a estranheza de seu cinema. Elogiado em Cannes, de onde saiu com o prêmio de Melhor Roteiro, O Lagosta conta a história de David (Colin Farrell) um homem solitário que chega a um hotel disposto a encontrar a sua cara metade- e desde o questionário que ele responde, percebemos que não estamos diante de um filme comum. Pelas explicações descobrimos que se ao final da temporada no hotel ele não encontrar o grande amor de sua vida, ele será transformado num animal (no caso de David, ele escolhe ser uma lagosta por elas viveram mais de cem anos). Além de procurar uma parceira para toda a vida, ainda descobrimos que existe uma caça aos solitários (pessoas que se recusaram a se casar ou serem transformadas em animais) que foram marginalizados e vivem numa floresta perto do hotel. Para cada solitário caçado, você ganha um dia a mais para encontrar seu par. Esse é apenas o ponto de partida para uma história que flerta o tempo inteiro com o surreal, mas que consegue fazer sentido dentro de uma estrutura cheia de simbologias sobre a necessidade humana de ter companhia, ou mais do que isso, da pressão que existe para que isso aconteça. Dentro da realidade do hotel, as relações parecem sempre artificiais (ao ponto do personagem de Ben Whishaw fazer o próprio nariz sangrar para que a pretendente se identifique com ele e o escolha para ser seu futuro esposo) e rendem comentários hilariantes como "se vocês não conseguirem resolver suas discussões, lhe daremos uma criança! Elas sempre ajudam a superar isso" e "Não podemos dançar acompanhados, por isso só tocamos música eletrônica". Só que David tem problemas com sua escolhida (Rossana Hoult), uma mulher conhecida pela total ausência de emoções e acaba tomando outros rumos - e ele vai descobrir que ao encontrar o amor, sempre algumas regras serão quebradas. Embora se repita em sua crítica ao apego às regras e costumes, Yorgos Lanthimos consegue criar um universo bastante rico em O Lagosta, mas ainda encontra problemas em domar seu gosto por esquisitices. Entre mortes, torturas físicas e psicológicas o diretor opta por alguns fatos que não acrescentam muito à trama (o reencontro com Ben Whishaw, a invasão ao hotel, o castigo de Rachel Weisz...). Da mesma forma, os atores continuam com a tarefa hercúlea de serem expressivos com a fala monocórdica e expressões faciais (quase sempre) mínimas. No entanto, o estilo peculiar tem garantido ao diretor admiradores fiéis pela ousadia ao contar suas histórias.
O Lagosta (The Lobster / Irlanda-Grécia-Noruega-Reino Unido-França / 2015) de Yorgos Lanthimos com Colin Farrell, Rachel Weisz, Ben Wishaw, Jessica Barden, John C. Reilly, Léa Seydoux e Olivia Colman. ☻☻☻
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