Hardy e Hardy: dois atores distintos em um só.
Tom Hardy é um dos atores mais cobiçados em Hollywood atualmente - e nos últimos anos está sempre cotado para as premiações. Em 2015 ele esteve presente em cinco produções, duas foram indicadas ao Oscar de Melhor Filme - Mad Max: Estrada da Fúria e O Regresso, este último lhe rendendo a merecida indicação à estatueta de ator coadjuvante. Se não tivesse fama de ser um ator encrenqueiro, provavelmente ele estivesse no páreo de melhor ator por Lendas do Crime, filme assinado por Brian Helgeland sobre os irmãos (gêmeos) Kray, temidos gangsteres na Londres dos anos 1950 e 1960. Baseado no livro de John Pearson, Helgeland cria um filme esperto sobre dois sujeitos problemáticos que ganharam cada vez mais espaço no mundo do crime organizado da Inglaterra em meados do século XX. Ainda que fossem cúmplices, desde o início o filme deixa claro as diferenças entre os dois. Narrado pela esposa de Reggie Kray, Frances (Emily Browning que finalmente espanta o marasmo de suas atuações), temos a ideia de que Reggie era um quase galã. Simpático, bem arrumado e articulado, a interpretação de Hardy torna fácil entender porque a mocinha de família cai de amores por ele. Por outro lado, Frances ressalta que o cunhado Ron Kray era totalmente desequilibrado. Homossexual e dotado de um senso de humor desagradável, Ron também era visivelmente insano, mas uma série de arranjos perante a justiça garantiram que ele ficasse fora de instituições de tratamento. O filme conta a ascensão dos Kray com o auxílio de vários coadjuvantes interessantes (destaque para o sócio vivido por David Thewlis e o namorado de Ron encarnado com desenvoltura pelo garotão Taron Egerton) e um senso de humor negro bastante particular (que vai para além da trilha animadinha em cenas violentas) ancorada nas personalidades dos manos. Helgeland demonstra mais uma vez seu talento para contar histórias sobre o mundo do crime, basta lembrar que ele tem um Oscar na estante pelo roteiro adaptado do espetacular Los Angeles-Cidade Proibida (1996) e outra indicação por Sobre Meninos e Lobos (2003) (além de ter assinado o famigerado O Troco/1999 estrelado por Mel Gibson). É perceptível o fascínio do cineasta pela psicologia que perpassa os tipos que habitam esse tipo de filme e aqui encontra um prato cheio no charme e temor que os Kray exalam - e encontra em Hardy um grande cúmplice em sua empreitada. Nas cenas em que os irmãos estão lado a lado existe a impressão que estamos diante de dois atores distintos dada não apenas a personalidade de cada um, mas, sobretudo, pelo trabalho de expressão vocal e corporal do ator. Por dar conta de dois personagens complexos no mesmo filme, você nem se importa que a narrativa perde o pique depois da primeira hora (e a boa reconstituição de época fica até em segundo plano perante a versatilidade de seu protagonista). Lendas do Crime pode não ter colocado Hardy na lista final do Oscar, mas o colocou entre as melhores atuações dos últimos tempos.
Lendas do Crime (Legend / Reino Unido - França - EUA / 2015) de Brian Helgeland com tom Hardy, Emily Browning, Paul Bettany, Christopher Eccleston, Taron Egerton, David Thewlis e Tara Fitzgerald. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário