Loretto e Rômulo: lutando dentro e fora dos ringues.
O cineasta brasileiro Afonso Poyart apresentou em sua estreia, Dois Coelhos (2012), ter uma assinatura diferente da grande maioria dos cineastas de sua geração. Nada de longos planos, câmera parada e edição contida, seus filmes possuem um ritmo ágil e com grande inspiração no cinema de ação. Essa característica o levou a ser convidado para dirigir Anthony Hopkins no recente Presságios de um Crime, sua estreia no cinema americano. O convite acabou adiando outro projeto, o filme sobre a história do lutador de MMA José Aldo, que começou a ser gerado em 2012 tendo Malvino Salvador como protagonista. Com o tempo, Salvador saiu do elenco e foi substituído por José Loreto - que apesar de não ser parecido com o biografado, está bastante convincente na pele do lutador de origem humilde e cheio de vontade de vencer. Poyart tem como maior desafio não deixar o filme desandar para o melodrama perante as dificuldades enfrentadas por Aldo junto à família em Manaus. O pai (Jackson Antunes) tinha sérios problemas com a bebida e agredia a esposa (Claudia Ohana em ótimo momento) constantemente. Morando na periferia e sem muita perspectiva de vida, a primeira parte do filme deixa claro que Aldo estava prestes a ter um destino obscuro se continuasse a não domar toda a raiva que trazia dentro de si - especialmente contra o rival Fernandinho (Rômulo Neto). Sorte que em determinado momento Aldo parte para o Rio de Janeiro e decide investir em sua carreira de lutador. A vida na Cidade Maravilhosa também não era fácil, mas ele conhece algumas pessoas que ajudam a dar uma guinada em sua vida, entre eles a bela Viviane (Cleo Pires), o treinador Dedé Pederneiras (Milhem Cortaz) e o amigo Marco Loro (Rafinha Bastos, responsável pelo alívio cômico dos treinos), que se tornam importantes em sua trajetória. Com duas horas de duração, Poyart realiza um bom trabalho para segurar a atenção da plateia, capricha nos cortes, no uso de câmera lenta e nos ângulos da reprodução das lutas que fizeram José Aldo chamar atenção da mídia como peso leve do agressivo esporte. De vez em quando o longa escorrega ao explorar demais os dramas familiares do personagem que ainda precisa domar seus demônios internos para brilhar nos ringues. Por outro lado, Poyart acerta ao não amenizar a força bruta do personagem - que nem sempre é mostrado como um sujeito fácil de lidar. O melhor é que Poyart sabe quando desacelerar para emocionar a plateia (devo admitir que achei emocionante a forma encontrada para encaixar como o protagonista conseguiu sua cicatriz no rosto, sem dúvida é um grande acerto). Feito com energia e competência, o filme poderia ser um pouquinho mais curto, mas nada que atrapalhe a capacidade do diretor para contar histórias no melhor estilo arrasa quarteirão (e o sucesso de bilheteria só comprova que isso é muito bem vindo em nosso cinema).
Mais Forte que o Mundo - A História de José Aldo (Brasil-2016) de Afonso Poyart com José Loretto, Cleo Pires, Jackson Antunes, Milhem Cortaz, Claudia Ohana, Romulo Neto, Paloma Bernardi e Rafinha Bastos. ☻☻☻
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