quarta-feira, 7 de setembro de 2016

CICLO VERDE E AMARELO: Chatô

Ricca: de descendente Tupi à Era Vargas. 

Depois de anos de uma produção conturbada (com orçamento estourado diversas vezes) e problemas após a conclusão (já que o filme foi "confiscado" para investigações pelo dinheiro gasto na produção), finalmente Chatô de Guilherme Fontes chegou aos cinemas. Soma-se vinte anos desde que o longa começou a ser filmado e, obviamente que havia grande curiosidade em torno dele até sua chegada aos cinemas no final do ano passado. O mais curioso é que depois de tanto tempo o filme continua atual e ousado por investir numa narrativa fragmentada que não opta pela obviedade de ser realista frente a história de Assis Chateaubriand. Chatô opta pela galhofa em tom de farsa. Baseado na biografia escrita por Fernando Morais, a produção mergulha num jogo de recorte e colagem quase aleatório de situações importantes na vida do brasileiro que se tornou magnata das comunicações. Apegado ao seu tom debochado, cínico e mulherengo, Marco Ricca constrói um personagem rico e, por isso mesmo, polêmico ao se distanciar do inofensivo.  O roteiro usa como pretexto uma trombose para mostrar tudo o que se passa dentro da mente de seu biografado, embaralhando referências, cores e personagens numa narrativa que beira o surreal. Serve como costura para os fatos o programa "O Julgamento do Século", onde o protagonista é questionado pelas suas ações, nem sempre louváveis, mas que serviram para impulsionar os meios de comunicação em nosso país. Ali discute-se os rumos de sua vida amorosa agitada, seu relacionamento com Getúlio Vargas (onde através da mídia foi capaz de leva-lo ao poder e depois cooperar em sua derrocada) e seu olhar astuto para os negócios (e produção de verdades notícias frente à população). Embora quem espera uma biografia convencional se decepcione (já que não utiliza pompa alguma para exaltar Chatô), o filme revela-se ainda mais interessante ao traçar a relação existente entre imprensa e política, mídia e poder, nos lembrando que ambas esferas são controladas por pessoas motivadas por seus próprios objetivos e motivações (mesmo em tempos de redes sociais as pessoas parecem ter esquecido disso). Nesse delírio, vale ressaltar a figura de Vivi Sampaio (ótima atuação de Andréa Beltrão) que é a mais esperta em cena, mas sempre limitada em suas aspirações por ser mulher. Com excelente direção de arte (que deve ter consumido boa parte do orçamento milionário) e narrativa tão ambiciosa quanto elaborada, Chatô está longe de ser o desastre que seus detratores desejavam. No entanto, há de se perceber que nem sempre o filme segura o ritmo vertiginoso que se propõe, deixando que algumas cenas pareçam soltas demais dentro do quebra-cabeça mental que estabelece - um defeito que parece até pequeno diante do retrato de um Brasil que parece mais atual do que deveria...

Chatô: O Rei do Brasil  (Brasil-2015) de Guilherme Fontes com Marco Ricca, Andréa Beltrão, Paulo Betti, Leandra Leal, Zezé Polessa, Gabriel Braga Nunes e Letícia Sabatella. ☻☻☻☻

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