Irandhir e Júlio: o movimento de um mundo cinza.
Famoso pelos curtas estilosos apresentados em festivais, Gregório Graziosi estreou em longa-metragem mantendo o mesmo rigor quanto à estética de sua cinematografia. Obra estreou no ano passado e chamou atenção com sua belíssima fotografia em preto e branco que emoldura com perfeição o trato com as imagens proporcionado pelo diretor. O filme conta a história de João Carlos (Irandhir Santos), um promissor arquiteto que está a frente de um projeto num terreno de sua família no centro de São Paulo, além da ansiedade perante o projeto, ele também está prestes a ser pai pela primeira vez. Tudo parece encaixar perfeitamente na vida do protagonista, até que uma ossada é encontrada no local da obra e ele prefere escondê-la para evitar atrasos na obra. Sua atitude gera problemas com o mestre de obras (Júlio Andrade) e uma série de angústias para o personagem, que vão do horror psicológico ao se deparar com suspeitas sobre o passado de seu avô e sentir dores crônicas na coluna. O filme avança em longos silêncios e cenas claustrofóbicas que só ressaltam a desconstrução vivida por João (preste atenção na primeira cena onde são projetadas imagens de prédios sobre o personagem até que um deles é demolido, uma cena que parece aleatória mas que trata-se de uma prévia do que veremos). Se a narrativa pode soar hermética para alguns, a construção das cenas são um verdadeiro deleite para os olhos. A preocupação com detalhes arquitetônicos e objetos em cena mostra-se um grande trunfo do filme, que para além dos conflitos morais do personagem, amplia o conceito de Obra para além da construção civil, referindo-se à família, à identidade e à carreira. Em alguns momentos o filme me lembrou Pi (1998), o primeiro filme de Darren Aronofsky e em outras o recente Demon (2015), embora siga por caminhos diferentes, a originalidade aqui está em fugir dos temas urbanos convencionais - não há o ritmo alucinante da metrópole, os carros parados no trânsito (aspectos que estão presentes, mas como parte dos sons que sempre surgem em cena ao lado da trilha sonora). Graziosi impressiona por sua segurança ao contar uma trama repleta de simbologias sobre o que se esconde na história das grandes metrópoles - e o tom impresso pelo fotógrafo André Beltrão funde homens e cenários com perfeição, fazendo tudo parte de um mesmo corpo cinzento.
Obra (Brasil/2015) de Gregório Graziosi com Irandhir Santos, Júlio Andrade, Lola Peploe, Fernando Coimbra e Marisol Ribeiro. ☻☻☻
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