Cage e Sheridan: no limite do abismo.
Joe passa os dias trabalhando duro numa floresta e à noite costuma gastar o dinheiro com bebida e mulheres. Ele é um sujeito trabalhador, mas que reconhece seus problemas em conter os impulsos agressivos quando provocado, afinal, já possui vasto histórico junto à polícia loca. O ambiente em que vive conta muito, cercado de habitantes sórdidos, Joe não demonstra muito apego por ninguém daquele lugar, até que conhece o adolescente Gary, que aos quinze anos começa a trabalhar ao lado dele e enfrenta problemas com o pai abusivo. Ou seja, Joe é o tipo de papel que um ator como Nicolas Cage agradece quando aparece em seu caminho. Vale ressaltar que Cage está muito bem acompanhado por Tye Sheridan, que vive Gary e traz alento para a desilusão do protagonista diante de um mundo que apodrece diante dos seus olhos. Se Gary ainda tem a esperança que pelo trabalho poderá dar uma vida melhor para sua família, para Joe zelar por Gary torna-se sua única motivação - especialmente quando ele percebe que o pai do menino (vivido pelo assustador Gary Poulter) é um sujeito abusivo e sempre metido em confusão. O diretor David Gordon Green ferve a mistura desses personagens adicionando ainda um desafeto de Joe à receita: Willie-Russell (Ronie Gene Blevins, um tanto caricato) que é mais uma encarnação do mal que cruza o caminho dos personagens. Green prova, mais uma vez, ser um diretor de extremos, sendo capaz de criar comédias completamente idiotas (como Segurando as Pontas/2008 e Sua Alteza?/2011) e dramas autorais como Príncipes da Estrada/2013 este aqui. Seu problema com os dramas é a montagem, sempre lenta, arrastada e com cenas que soam improvisadas (e que podem ter ficado de fora na edição final). Em alguns momentos Joe parece testar a paciência do espectador, desperdiçando boas ideias que poderiam resultar mais impactantes numa montagem mais enxuta em suas quase duas horas de duração. A grande sorte é que o cineasta é bom na condução de seus atores, e aqui conta com momentos inspiradas do elenco, sobretudo de Sheridan que é a encarnação de todo o caráter que Joe ainda precisa acreditar que existe no mundo (e não irá deixar nem que o pai destrua isso) e do próprio Cage que tem sua melhor atuação em muito tempo - de vez em quando o astro (desperdiçado em vários filmes de ação) olha para a estante de e vê aquele Oscar reluzente (recebido por Despedida em Las Vegas/1995) e lembra que consegue carregar um filme nas costas sem dificuldades. Desde Kick-Ass (2010) que ele não fazia um filme digno de lembrança (mas, ironicamente, Joe é de 2013 e, após vários adiamentos chegou diretamente em DVD no mês de junho).
Joe (EUA/2013) de David Gordon Green com Nicolas Cage, Tye Sheridan, Gary Poulter, Ronie Gene Blevins e Adriene Mishler. ☻☻
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