domingo, 18 de setembro de 2016

Na Tela: Julieta

Crao e Adriana: belo romance num filme mediano. 

Enquanto o Brasil preferiu não indicar um filme aclamado em Cannes (Aquarius) para concorrer a uma vaga na categoria de melhor filme estrangeiro no Oscar2017, a Espanha escolheu um filme exibido em Cannes que recebeu críticas mornas para tentar a mesma vaga. Julieta de Pedro Almodóvar não impressionou o público do Festival, mas como o cineasta ainda possui grande prestígio internacional, seu país acredita em sua nomeação. Julieta (Emma Suaréz) é uma mulher madura e feliz que está prestes a mudar-se para Portugal com o namorado, Lorenzo (Darío Grandinetti), mas ao reencontrar uma antiga conhecida, desiste da mudança. Ela também desiste do relacionamento, muda-se para o mesmo prédio em que viveu por muitos anos e torna-se reclusa, introspectiva, alimentando-se de um segredo do passado que ainda a deixa angustiada. Quando Julieta começa a escrever uma espécie de diário sobre sua trajetória, o filme se rende a um longo flashback sobre a juventude da personagem (onde ela passa a ser interpretada por Adriana Ugarte). Ela registra como viveu um tórrido relacionamento com o grande amor de sua vida e teve uma filha, até que uma série de acontecimentos a tornaram mais triste e melancólica - e onde reside o tal "segredo" que a fez desistir de viver com Lorenzo. Faz algum tempo que Almodóvar investe numa atmosfera de suspense em seus filmes, e considero que ele alcançou o melhor resultado no controverso (que eu adoro) A Pele que Habito/2011, aqui ele tenta criar um drama feminino que se sustentaria pelo mistério do passado de sua protagonista, mas um dos grande problemas o filme é que o "segredo" da personagem não é algo tão complicado assim para que ela comprometa toda a oportunidade que Julieta tenha de ser feliz - e por mais que Emma e Adriana defendam a personagem com grande empenho, o gosto de decepção é inevitável quando o filme chega ao fim. Há quem credite o resultado mediano do filme a falta de sintonia de Almodóvar com a escrita da canadense Alice Munro, onde o cineasta se inspirou para criar o roteiro do filme. Famosa por seus personagens introspectivos, Almodóvar parece filmar sob uma camisa de força para conter o estilo que o consagrou. Embora seja melhor do que seu filme anterior (a comédia Os Amantes Passageiros/2013), Julieta ainda não alcança todas as notas que o cineasta pretende - mas os antigos fãs do diretor irão curtir o retorno de Rossy de Palma ao universo almodovariano, ela está excepcional num papel completamente diferente do que estamos acostumados a vê-la. 

Julieta (Espanha/2016) de Pedro Almodóvar com Emma Suaréz, Adriana Ugarte,  Darío Grandinetti, Daniel Crao, Rossy de Palma e Inma Cuesta. ☻☻

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