Sufragettes: luta pelo direito ao voto feminino.
Vivemos tempos estranhos onde muitas pessoas parecem considerar que os direitos conquistados ao longo da histórias são favores ou benefícios concedidos pela bondade de governantes bondosos. Ainda me impressiono com a quantidade de bobagens que circulam nas redes sociais, onde as opiniões mais grotescas ganham aparência de verdades imbatíveis e cheia de seguidores. Nada contra a liberdade de se expressar, mas estudar um pouco de história não faz mal a ninguém, pelo contrário, ajuda a não espalhar baboseiras por aí, especialmente quando nos referimos aos direitos humanos. No Dia Internacional da Mulher (e espero que você saiba a história deste dia) escrevo sobre um filme que demonstra um pouco como nossos direitos devem ser valorizados como frutos de luta e não da generosidade de quem estabelece o que é certo ou errado perante a lei. As Sufragistas, filme da diretora inglesa Sarah Gavron, representa bem como um direito, aparentemente banal em nossos dias foi conquistado com muito sangue, suor e lágrimas. O filme conta a luta de um grupo de mulheres pelo voto feminino no Reino Unido, o grupo conhecido como "sufragistas" foi responsável por manifestações e atos que fizeram com que a voz feminina pudesse ser ouvida politicamente. Embora tenha o foco numa personagem fictícia, Maud Watts (Carey Mulligan em outro bom momento), o filme retrata situações que realmente aconteceram durante a jornada dessas mulheres que foram presas, rejeitadas por suas famílias e até espancadas em manifestações pacíficas (o que fez com que posteriormente, elas mesmas adotassem ações mais agressivas e violentas). É interessante como no início Maud parece não se importar com a situação das mulheres de seu país, afinal, ela se preocupa em trabalhar (e ver as situações de abuso no local de trabalho), cuidar da casa, do esposo (Ben Whishaw) e do filho pequeno. No entanto, aos poucos ela percebe que o voto será essencial para uma mudança do papel da mulher na sociedade - e ela se torna cada vez mais engajada no movimento. No entanto, assim como suas amigas (destaque para Helena Bonhan Carter e Romola Garai) ela enfrentará muitas agressões e incompreensão, afinal, conceder tal direito é visto como uma ameaça à soberania do estado estabelecido pelas regras masculinas. Embora a diretora opte por não explorar todas as possibilidades que tem nas mãos, o filme consegue criar um retrato de época bastante fiel sobre a situação das mulheres britânicas no início do século XX - até culminar no incidente envolvendo a militante Emily Davison (Natalie Press) em 1913. Para além do cuidado na reconstituição de época, vale destacar a atuação de Carey Mulligan, que constrói uma espécie de amálgama de várias personagens reais com a competência de sempre e realiza cenas de arrepiar (especialmente quando enfrenta o personagem de Brendan Gleeson, a personificação da repressão do estado à causa das mulheres). Em tempos onde as pessoas simplificam o feminismo como "o oposto do machismo" [sic], As Sufragistas torna-se um filme essencial para perceber que a igualdade de direitos é algo essencial (e não a opressão de um gênero sobre o outro como o machismo institui num conjunto de ideias que se propagam feito ervas daninhas). Além de assustar com suas cenas de violência, o filme também assusta pelo final da sessão, quando somos lembrados que alguns países instituíram o voto feminino somente no século XXI - e outros ainda não o fizeram.
Sarah Gavron
As Sufragistas (Sufragette/Reino Unido - 2015) de Sarah Gavron com Carey Mulligan, Helena Bonhan Carter, Brendan Gleeson, Ben Whishaw, Natalie Press e Meryl Streep. ☻☻☻☻
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