quinta-feira, 9 de março de 2017

CICLO DIRETORAS: Toni Erdmann

Filha e Pai: presos pelo mundo levado a sério demais. 

Existe um  gênero bastante específico de comédia que quando a realizadora realmente o entende, o resultado causa grande sensação. Trata-se da "comédia maluca", aquela onde os personagens se envolvem em situações cada vez mais absurdas, mas que debaixo de toda o besteirol existem intenções muito profundas. O filme alemão Toni Erdmann se enquadra nesta descrição. Exibido em Cannes o filme da diretora Maren Ade causou sensação com seu humor cheio de absurdos imprevisíveis e a mensagem de que devemos levar a vida com mais leveza do que andamos fazendo. A história gira em torno de Winfried (Peter Simonischek) que parece não levar nada muito a sério, ao contrário de sua filha, Ines (Sandra Hüller), uma workaholic sempre pendurada no celular e que aparenta não ter vida fora do trabalho. Winfried e Ines são extremos opostos e, sem entrar em detalhes sobre como foi a relação familiar entre os dois (apenas entendemos que os pais de Ines são separados há tempos), percebemos que os dois estão fora de sintonia. Desde o primeiro encontro, existe um verdadeiro abismo entre os dois personagens e quando o pai resolve passar alguns dias com a filha tudo piora. Não é difícil perceber o quanto Ines está imersa no trabalho 24 horas por dia - se ela estivesse feliz a situação seria outra, mas ela evidencia sinais cada vez mais gritantes de estresse. Ines se cobra demais e, provavelmente, ao interagir no competitivo mundo empresarial, aprendeu desde cedo que o seu melhor é sempre pouco perante a concorrência que pode tomar o seu lugar. A diretora está longe de criar um discurso feminista, mas de vez em quando a personagem precisa lidar com comentários de quem pensa que faz parte do seu trabalho conhecer todos os shoppings da cidade e orientar as compras da esposa de um cliente - ou até aceitar ofensas disfarçadas de elogio ao fato dela ser mulher. Já Winfried já percebe a vida de outro jeito, percebe que levar a vida muito a sério só faz com que ela fique cada vez mais chata e, de vez em quando, até suas são levadas a sério! Já que existe um desgaste evidente entre pai e filha, o pai resolve criar um personagem: Toni Erdmann - para fazer a filha perceber como o universo que ela habita é bem menos sisudo do que ela imagina - às vezes ele acerta, em outras ele só percebe os motivos que deixaram  a filha endurecida pela profissão. Toni Erdmann tem duas horas e quarenta minutos de duração, mas se desenvolve de forma bastante dinâmica, especialmente porque o roteiro sempre cria momentos de virada bastante interessantes - especialmente no aniversário de Ines que sugere um verdadeiro surto da personagem! No entanto, vale ressaltar que é um filme de comédia alemã - o que pode causar desconforto com algumas cenas um tanto despudoradas, mas não é difícil embarcar no clima da produção que foi indicado ao Oscar, ao BAFTA e ao Globo de Ouro de Filme Estrangeiro após concorrera Palma de Ouro em Cannes. O jeito tresloucado do filme funciona tão bem que Hollywood até prepara um remake estrelado por Jack Nicholson, resta saber se a espinha dorsal da história permanecerá intacta ao abordar a delicada relação entre pai, filha e o mundo cada vez mais sisudo.

Maren Ade

Toni Erdmann (Alemanha/2016) de Maren Ade com Peter Simonischeck, Sandra Hüller, Thomas Loibl, Trystan Pütter, Lucy Russell e Alexandru Papadopol. ☻☻☻

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