Nate (ao centro): massacre fora das telas.
Em 2016, no meio de toda discussão sobre o #OscarSoWhite um filme exibido no Festival de Sundance ganhou todas as atenções, elogios e foi eleito como o melhor do Festival - sendo considerado um dos fortes candidatos ao Oscar de 2017. O ator Nate Parker estreava na direção com a história de um escravo que após pregar a submissão o evangelho para os outros escravos, se tornou o líder de uma rebelião que deu origem ao um grande massacre no Estado da Virgínia em 1831. Considerado um trunfo para a temporada de prêmios, o filme perdeu a torcida quando veio à tona a acusação de estupro sob Parker e um colega de quarto na época da faculdade. A situação chegou à mídia quando foi noticiado o suicídio da vítima que acusou a dupla em 1999 e desde então não se recuperou. O tom de tragédia envolveu o filme. O diretor sofreu duras críticas e a obra que era exaltada foi boicotada nas premiações e telas de cinema. Parker tentou argumentar que foi inocentado no processo e mesmo assim, a repercussão negativa levantou debates sobre até que ponto uma obra deve ser penalizada pela conduta de seu autor, mas o estrago estava feito. Ironicamente, O Nascimento de uma Nação é um contraponto ao horroroso filme, de mesmo nome, de D. W. Griffith lançado em 1915, que abordava a mesma história e que ressaltava a imagem dos homens negros como predadores sexuais e exaltava os membros da Ku Kux Klan como heróis. Parker teve bastante coragem de batizar seu longa de estreia com o mesmo título de uma obra bastante conhecida. Além de assumir a direção, Parker assina o roteiro, a produção e encarna o protagonista Nat Turner, escravo que cresceu na fazenda ao lado do filho (Armie Hammer) de seu proprietário. Na vida adulta, Nat passa a pregar o evangelho para os escravos da fazenda e como seus sermões caem como uma luva para promoção da submissão de seus semelhantes, ele visita as fazendas da região, presenciando diversas atrocidades. O interessante do filme é a guinada do personagem quando ao tomar consciência da realidade através de suas andanças. Para nós brasileiros a temática não traz nenhuma novidade, afinal, nosso período escravagista já virou tema de várias novelas das seis, filmes livros, mas para o cinema americano ainda é um tema pouco explorado - basta lembrar de toda a celebração em torno de 12 Anos de Escravidão/2013. Em termos de narrativa, o filme sofre pela falta de sutileza do diretor, que conduz as atuações com mão pesada e utiliza algumas metáforas pouco sutis para emocionar o espectador. Mesmo na alardeada rebelião, alguns momentos poderiam ser mais bem trabalhados, como o confronto entre Nat e Samuel (que resulta apressado), além de algum acanhamento em lidar com a tarefa complicada de exaltar como herói o líder de um massacre. No fim das contas, O Nascimento de uma Nação é um filme bom, mas distante do brilhantismo alardeado em Sundance - e Parker ainda é melhor ator do que diretor (mas no fim das contas foi sua conduta feito pessoa que pesou no apelo do filme). No entanto, as ironias não param por aí. Esquecido nas premiações, Nate teve que ver a celebração de Casey Affleck após acusações de abuso sexual.Casey ganhou o Oscar de melhor ator, tem três filmes para lançar e uma minissérie, enquanto Nate ainda tem seus projetos futuros no campo da incerteza.
O Nascimento de Uma Nação (The Birth of a Nation/EUA-2016) de Nate Parker com Nate Parker, Armie Hammer, Penelope Ann Miller, Jackie Earle Haley e Aja Naomi King. ☻☻☻
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