sexta-feira, 10 de março de 2017

CICLO DIRETORAS: De Amor e Trevas

Tessler e Natalie: um filme sobre origens. 

Em 2017 a atriz Natalie Portman conseguiu sua terceira indicação ao Oscar, a primeira depois que foi premiada como a bailarina complicada de Cisne Negro (2010). Conhecida mundialmente, ela é uma das atrizes mais prestigiadas de sua geração e estreou como diretora em 2008 com um curta metragem (chamado Eve e estrelado por Lauren Bacall) e um dos episódios de Nova York, Eu te Amo! Em 2015, Portman dirigiu seu primeiro longa-metragem e o mais interessante é ver que a atriz fugiu de Hollywood e voltou-se para suas origens (tanto que o filme é todo falado em hebreu). Pouca gente lembra, mas Natalie é israelense, nascida em Jerusalém em uma família de judeus, e escolheu um livro de memórias do compatriota Amos Oz para realizar o roteiro (também escrito por ela) deste De Amor e Trevas. Não satisfeita a atriz ainda reservou para ela o papel da mãe do escritor. Ou seja, Natalie escreveu, produziu, dirigiu e estrelou seu longa de estreia. Porém, quem lembra da estrela meiga que aparece em revistas, pode esquecer, ela está mais para a atriz séria que mergulha nas angústias de uma bailarina em crise ou lida com o assassinato do esposo presidente. De Amor e Trevas não é um filme brando ou fofinho sobre a relação de uma mãe com seu filho. Trata-se de um filme sofrido, seco e que fica ainda mais triste quando sua personagem mostra-se cada vez mais depressiva. Natalie investe no que há de mais sombrio e melancólico nas memórias do escritor em seu relacionamento muito próximo com a mãe, Fania Klausner. Fania sempre contou histórias um tanto obscuras para o filho (e podemos até imaginar a influência que ela exerceu sobre o futuro escritor), verdadeiros contos sobre moradores da região (muitos terminando em suicídio, que já revelava uma ideia fixa na mente da mãe e esposa zelosa). A melancolia de Fania se relaciona muito com o período retratado no filme, em que ocorre a transição do domínio do Reino Unido e os primeiros anos da criação do Estado Israelense ao final da década de 1940, pouco depois do mundo se chocar com os horrores da Segunda Guerra Mundial. Os conflitos já eram evidentes naquela época, mas o tom amargo é por vezes equilibrado pela poesia de belas imagens com narrativas em off. O filme também tem como atrativo a luminosa atuação do menino Amir Tessler (que vive Amos quando pequeno) e a marcante presença de Gilad Kahana (como o esposo de Fania e pai de Amos). Traduzir um livro de memórias não é uma tarefa fácil, mas percebe-se desde o início que o interesse da atriz /diretora revela muito sobre suas origens e a histórias que deve ter escutado em família sobre a terra natal - e isso traz um grande diferencial para seu olhar como cineasta. Ainda que o grande público possa considerá-lo um tanto lento e arrastado (e por vezes é mesmo, mas quem disse que todo filme precisa ser ágil e eletrizante?), De Amor e Trevas é uma estreia promissora para uma diretora que, como atriz, sempre tem seus melhores momentos quando aposta no imprevisível.

Natalie Portman

De Amor e Trevas (A Tale of Love and Darkness / Israel - EUA / 2015) de Natalie Portman com Natalie Portman, Amir Tessler, Gilad Kahana, Tomer Kapon e Moni Moshonov. ☻☻ 

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