Adam e Andrew: testando nossa fé em Scorsese.
Silêncio é um desses projetos pessoais em que os diretores se aventuram enfrentando várias adversidades e parece que nunca ficarão prontos. Há décadas que Martin Scorsese tentava fazer o filme, mas encontrava vários problemas (entre eles a própria escalação do elenco, já que poucos atores demonstraram interesse nos personagens). As datas de lançamento foram várias vezes adiadas, assim como as tentativas de aparecer em Festivais se mostraram frustradas. Quando o filme finalmente ficou pronto, o estúdio resolveu lançá-lo no meio da temporada dos pesos pesados, ou seja, nos últimos meses do ano. A estratégia foi arriscada ao deixá-lo para última semana de 2016. Resultado: se não fosse a indicação ao Oscar de Melhor Fotografia no Oscar o filme teria passado completamente em branco nas premiações. A pergunta que ficou no ar até o filme estrear por aqui era se o filme era realmente digno de tamanha indiferença. Será? O filme é uma adaptação do livro de mesmo nome de Shusaku Endo sobre um grupo de missionários jesuítas no Japão do século XVII, período em que o catolicismo foi banido do país e seus fiéis brutalmente perseguidos. É neste período que os padres portugueses Rodrigues (Andrew Garfield) e Garupe (Andrew Garfield) partem para o Japão para descobrir o paradeiro do padre Ferreira (Liam Neeson), que desapareceu durante o massacre de católicos. A partir daí, a dupla irá se confrontar com a dura perseguição que seus convertidos sofrem no Japão. Além de testemunharem a dura realidade de seus convertifos, eles mesmos serão perseguidos e terão a fé colocada à prova em várias situações violentas. Scorsese capricha no tom solene, os atores se esmeram (Garfield e Driver estão muito bem em cena e tiveram que perder muito peso para seus papéis), a fotografia é belíssima... mas o filme não consegue ser muito mais do que duas horas e quarenta minutos de cenas de torturas variadas. Existem bons diálogos durante o filme, mas não compensam o roteiro de uma nota só. Parece até irônico que diante do teste de perseverança submetido aos padres, o público também precise ser perseverante e fiel a Scorsese para não ficar desapontado. Além do cansaço da violência repetitiva (e em alguns momentos ouvi até algumas risadas involuntárias por conta disso), senti falta de um contraponto sobre o olhar japonês sobre os jesuítas, algo que fosse além do perfil bestial feito dos japoneses. Scorsese (que se declara católico não praticante) de vez em quando se rende a temáticas religiosas, foi assim com A Última Tentação de Cristo (1988) e o esquecido Kundun (1997), por isso mesmo deveria saber que não basta boas intenções neste tipo de filme. Um roteiro sólido e bem construído teria feito a maior diferença ao contar uma história rara de se ver no cinema, mas, diante do resultado, a indicação ao Oscar de melhor fotografia está de bom tamanho - mas eu ainda tenho fé em Scorsese, afinal, errar é humano e perdoar é divino!
Silêncio (Silence/EUA-Taiwan-México/2016) de Martin Scorsese com Andrew Garfield, Liam Neeson, Adam Driver, Tadanobu Asano e Ciarán Hinds. ☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário