domingo, 19 de março de 2017

PL►Y: A Pastoral Americana

Ewan e Jennifer: destruindo o sonho americano. 

Sempre acho interessante quando um ator famoso estreia como diretor. Não sei explicar muito bem o motivo, mas acho que está relacionado à oportunidade revelar como este pensa "cinema". Ano passado foi a vez do escocês Ewan McGregor fazer o seu debut com a adaptação de um livro de Phillip Roth, no entanto, se não demonstra ser um cineasta brilhante, Ewan sabe zelar pelo visual do filme e criar uma atmosfera sombria bastante eficiente. A  Pastoral Americana conta  história de uma família nos conturbados anos 1950, o casal é formado pelo judeu Swede Levov (McGregor) - que ficou famoso na cidade por seu sucesso como jogador no time da escola - e a católica Dawn (Jennifer Connelly), uma rainha da beleza que chegou a concorrer ao prêmio de Miss America. Como em todo livro de Phillip Roth eles não servem apenas como pessoas de uma narrativa, mas são encarnações símbolos do imaginário norte-americano. Ele trabalha numa indústria de confecção de luvas e ela queria ser professora de música na escola local, mas acabou cuidando de algumas cabeças de gado que herdou do pai. Juntos eles tiveram Merry (vivida por Dakota Fanning quando adolescente). Menina meiga e carinhosa, mas de uma gagueira incurável que uma terapeuta considera um reflexo de como ela lida com o histórico de seus pais - talvez ela se frustre por não ser capaz de seguir os passos da mãe nos concursos de beleza e tão pouco encontrar um cavalheiro tão atraente quanto o pai. O fato é que Merry cresce um tanto revoltada com a situação política do seu país (guerra do Vietnã, luta pelos direitos civis, movimento hippie, ativismo radicalista...) e sente-se um tanto culpada pelo conforto do lar. Não demora muito para a menina se torna suspeita de uma explosão realizada na cidade e seu paradeiro se torna desconhecido. Pode se dizer que o filme se divide em três atos que testarão a habilidade de McGregor em construir uma narrativa fluente. No primeiro ato ele se sai bem, apresentando os personagens e as fissuras de onde os maiores problemas surgirão, depois ele se complica. No segundo ato, o roteiro e montagem deixam a narrativa confusa, deixando o espectador mais preocupado com onde perdeu o fio da meada do que com o desaparecimento da menina. Esta é a parte mais importante do filme, já que o foco recai sobre o olhar dos pais sobre a princesa da casa é suspeita de terrorismo. Por conta disso, o filme ganha um tom de filme noir que segue para testar a índole incorruptível do pai enquanto a mãe mostra-se mais fragilizada e prestes a ter um colapso. Passada a confusão do miolo, chegamos ao último ato, onde se joga por terra tudo o que o casal acreditava ser verdadeiro diante do estranho destino doentio escolhido pela filha. A Pastoral Americana só não voa mais alto porque resulta truncado em sua realização que deixa de lado alguns pontos importantes da complexa relação familiar que acompanhamos. Embora não tenha medo de ser uma história deprimente, o longa poderia ser mais interessante se tivesse um texto melhor lapidado, mas penso que a própria escrita de Roth deixa os roteiristas um tanto confusos na hora de criar um roteiro. Sobre o diretor estrante, vale dizer que McGregor está liberado para novas obras, só espero tenha uma voz mais definida em sua próxima empreitada atrás das câmeras.

A Pastoral Americana (American Pastoral/EUA-2016) de Ewan McGregor com Ewan McGregor, Jennifer Connelly, Dakota Fanning e David Strathairn. 

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